que me espreite a lua. que espreitem as gentes.
que eu hoje estou demasiado nua.
apontem-me luzes mas incandescentes.
de que serve ser pouco se se foi fadado para a desgraça
e a tragédia é sempre grande-imensa?
comigo tudo fica. nada passa.
ficaram-me no corpo e na alma cicatrizes.
pois que as vejam todos os malfeitores do mundo!
afinal foram eles a cravar os ferros ainda em fogo
ah, mas a fugir correndo que nem doidos. logo. logo!
agora que estou nua onde se escondem?
de que têm vergonha uma mulher, um homem face a outro?
olhem ali: as pequenas cabeças a surgir do esgoto como ratos
tão tímidos e cheios de recatos, posso vê-los daqui. eu, que estou nua!
eu que bati no fundo e a única vergonha que transporto
é a de ainda viver num mundo que não sabe
mas está morto!