26/09/2007

os ratos

image by Joe


que me espreite a lua. que espreitem as gentes.

que eu hoje estou demasiado nua.

apontem-me luzes mas incandescentes.

de que serve ser pouco se se foi fadado para a desgraça

e a tragédia é sempre grande-imensa?

comigo tudo fica. nada passa.

ficaram-me no corpo e na alma cicatrizes.

pois que as vejam todos os malfeitores do mundo!

afinal foram eles a cravar os ferros ainda em fogo

ah, mas a fugir correndo que nem doidos. logo. logo!


agora que estou nua onde se escondem?

de que têm vergonha uma mulher, um homem face a outro?

olhem ali: as pequenas cabeças a surgir do esgoto como ratos

tão tímidos e cheios de recatos, posso vê-los daqui. eu, que estou nua!

eu que bati no fundo e a única vergonha que transporto

é a de ainda viver num mundo que não sabe

mas está morto!