30/07/2010

Na hora em que partiste, António Feio

ocorre-me citar:

"A tragédia e a sátira são irmãs e estão sempre de acordo; consideradas ao mesmo tempo recebem o nome de verdade." - Dostoievski

Tu António, seguramente conheceste a Verdade.




Também soubeste o significado desta canção. Até a máquina não permitir mais!

Obrigada António Feio por teres cumprido a vida que te coube.

Até breve.

Madalena


26/07/2010

Aleluia...

Foi-se um passado. Um passado passa? de facto?
Seja como for aleluia pelo presente. sem euforia, quebrado e frio o grito é : Hallelujah!


despedida. de ti.

See-our-sea-by-MagdaMontemor


tão perto a Navegar fomos chegando!

cheiro intenso a Mar e a cordames

a algas e marés - a sonhos de vigia

a cardumes brilhantes (tanta luz!)

bocas secas de sal - inundadas de oceanos

e era a terra só que nos prendia


em terra nos quedamos.


digo-te como o pescador que não sabe se volta

- saúde! até um dia...



"bebe o mar, Xantós!"


miss_you____by_gutku

tanto tempo a fugir para a beira de água. fugir como para braços de mãe. quentes.

brincar com pedras conchas mas sem gente. ouvir as ondas. furá-las e voltar

para terra firme. o mar é tão profundo como o céu deve ser. não me aventuro a mais que rios

eu sou de ver. não de engolir o mar. "bebe o mar, Xantós!" vem-me à cabeça o teu grito na fala de Esopo

a tua voz de homem de Liberdade e de coragem. separado pelo rio. na outra margem

separado de mim que tanto te amo agora como dantes. calo. a lágrima foge...


hoje, como tu nessa altura, tenho a garganta fechada ainda ao grito por dar. seca. calada

só à espera da hora. a hora certa do cansaço chegar a fazer subir a raiva à boca

até ao grito que me mate mas sacuda esse bando baço prepotente medíocre

do qual um povo morre de medo outra vez (o desemprego, o patrão, a fome)


brinco com pedras conchas ondas sons maresias gaivotas (mas até essas gritam com as marés)

e como a minha sobe!

quando o grito chegar será o grande inesquecível e final espectáculo

haverá alguém que me escute. que me siga. que me ignore ou dispare

mas nunca que me dome!




a ti.

"descubram as diferenças"

foto de Magda Montemor

"...A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. (...)O salário diminui. (...) O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. O país vive numa sonolência enfastiada. A certeza deste rebaixamento invadiu todas... as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!" (Eça de Queiroz- "As Farpas" 1871)

25/07/2010

Sinais dos tempos - Alerta!

What_for__by_LOVELLIEXOX

A nível laboral, neste momento, vive-se num "salve-se quem puder".
Os menos competentes praticam a denúncia do que assistem ou inventam sobre colegas. Depois, seja qual for o estatuto, surgem os "capatazes" de escritório, de..., de... por todo o lado. Que escravizam e humilham até levar a "presa" à exaustão. Normalmente conseguem.

As "baixas" por depressão crescem todos os dias. Há psiquiatras "à beira de um ataque de nervos" por quase não conseguirem dar resposta a tanta procura.
Não falo em sentido figurado. São factos.
As mulheres adoecem e os homens suicidam-se.

É preciso agir antes disso!

Denunciem.

...pois é

image by Sergei Sogokon

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- quê? é assim que ele fala? isso é conversa de gente?!

- não. é treta sem conversa e se é de gente não sei. não lhe quero ver os dentes para saber se ele é vampiro.

- para. é aqui que eu respiro fundo de tanto absurdo. pensava que gente assim ou já tinha mais de 80 ou tinha deixado o mundo com uma pedra ao pescoço.

- pois é. mas este sobrou. pelo menos por agora. fiz uma pausa na Vida. não sei quando chega a Hora de lhe mostrar de uma vez de que é feita uma Mulher.

- olha com quem se meteu o raio do cromo. coitado!
mas ele é chefe de quê?

- de mim, pelo que entendi e bem pouco mais do que isso...

de manhã vem direitinho. controlado. atormentado. sem vontade de um sorriso. não que se note a diferença. aquilo, é cara sem rosto.

- e de tarde, é diferente? fica mais homem, mais gente?

- não. de tarde é pacote inchado, coisa de chefe à Bordalo. apetece até furá-lo e ouvir o ar a sair.
pior?... era o cheiro a mosto que eu teria de sentir.

- ah. então está tudo explicado. e... dá-lhe uma de sargento?

- sim, com divisas de cabo. e eu vou contando até 100 para ver se o aguento.
ele são bocas foleiras e queixinhas e rasteiras. enfim. coisas do antigamente que só vejo repetir em pessoas mal formadas a quem deram, por engano quero crer e por tempo limitado, uma réstea de poder.

- ele será afilhado?

- que eu saiba não. tu conheces-me. não sou dada a essas tricas.
mas verá televisão e logo logo a seguir ensaia ao espelho. para imitar. um conhecido e de "má fama" engenheiro. e assim se julga patrão.

- pois é. parece que está na moda essa de ser prepotente. mas os tempos vão mudar. mudaram já e em tempos muito piores. onde os dessa laia eram bonecos de outros senhores.

- por mim podes apostar. nem que seja a única coisa a fazer em estado activo.

- isso faz as pedras rir!

- a mim não. e nem sorrir. só cerro. com força. a mão.








Rafael Bordalo Pinheiro


05/07/2010

o amor dói

Fate_by_andyshade

parecia destinada a ficar ali
num espaço sem verde na cor, sem luz e sem nada
o amor dói , love hurts, recordava
mas onde estava o amor que gerara e repartira?

aquele amor de paz que resulta
de quando uma mulher e um homem se dão.

perdera-o na neblina de insondáveis desígnios
impensáveis sentires de destruir

fosse como fosse o amor não estava já no horizonte
havia um deserto negro a atravessar

vieram as horas de cerrar os dentes
todas feitas raiva sem dó e sem som
veio ainda a dor que não é de amar
a dor do vazio, do nada, do espaço baço
do frio. do corte
de aço
da morte a um traço
a faltar
nada mais que
o passo
e a querê-lo
dar!

veio depois o puro sadio cansaço
a fazer parar

descansou o braço estendido e à espera
descansou os olhos do seu perscrutar
descansou a mente. mas não a memória a abarrotar

a seguir ergueu-se. apoio de parede
conseguiu-se erecta. coisa celular
já nada esperava
e já pouco queria
e passo após passo
liberta do laço
que ali a prendia
voltou a andar


o amor? o amor dói
mas é lá, à frente, que a dor vai passar.


MP