não descanso. não durmo. nem o som das águas chega aos meus ouvidos. a acalmar
como o ladrar de uma matilha na euforia da caça a vozearia na minha cabeça estala e sobe
vozes de mortos e de vivos agurmentam. dizem de sua razão. todos a têm
a cada um sua razão. não se encontram. não dialogam. falam. tão alto que a cabeça me estoura no escutar
hão-de dizer - é louca se houve vozes. hão-de dizer. já dizem muitas coisas mais
mas esses não importam. não entram na minha cabeça. não são deste meu mundo de vivos e de mortos
sinto-me um receptor de onda curta. não emito. recebo tudo numa amplidão insuportável
saberão que os escuto? não. não podem saber. se soubessem conviriam também quanto os conheço
porque eles não se auscultam entre si e eu nem posso sequer impedir-me isso
tanta voz! tanto eu! tanta dor sem remorso! tanta crueza! tanta intolerância! tanto silêncio em grito (o dos mortos)!
mando calar o meu animal de estimação que ladra a um odor novo ali por perto
não obedece. e de que serviria se são as razões dos vivos e dos mortos que me martelam o cérebro sem cessar?
onde é o interruptor que desliga isto? isto de ser receptor sem poder interferir? onde?
não sei.