.................................................................
- não. é treta sem conversa e se é de gente não sei. não lhe quero ver os dentes para saber se ele é vampiro.
- para. é aqui que eu respiro fundo de tanto absurdo. pensava que gente assim ou já tinha mais de 80 ou tinha deixado o mundo com uma pedra ao pescoço.
- pois é. mas este sobrou. pelo menos por agora. fiz uma pausa na Vida. não sei quando chega a Hora de lhe mostrar de uma vez de que é feita uma Mulher.
- olha com quem se meteu o raio do cromo. coitado!
mas ele é chefe de quê?
- de mim, pelo que entendi e bem pouco mais do que isso...
de manhã vem direitinho. controlado. atormentado. sem vontade de um sorriso. não que se note a diferença. aquilo, é cara sem rosto.
- e de tarde, é diferente? fica mais homem, mais gente?
- não. de tarde é pacote inchado, coisa de chefe à Bordalo. apetece até furá-lo e ouvir o ar a sair.
pior?... era o cheiro a mosto que eu teria de sentir.
- ah. então está tudo explicado. e... dá-lhe uma de sargento?
- sim, com divisas de cabo. e eu vou contando até 100 para ver se o aguento.
ele são bocas foleiras e queixinhas e rasteiras. enfim. coisas do antigamente que só vejo repetir em pessoas mal formadas a quem deram, por engano quero crer e por tempo limitado, uma réstea de poder.
- ele será afilhado?
- que eu saiba não. tu conheces-me. não sou dada a essas tricas.
mas verá televisão e logo logo a seguir ensaia ao espelho. para imitar. um conhecido e de "má fama" engenheiro. e assim se julga patrão.
- pois é. parece que está na moda essa de ser prepotente. mas os tempos vão mudar. mudaram já e em tempos muito piores. onde os dessa laia eram bonecos de outros senhores.
- por mim podes apostar. nem que seja a única coisa a fazer em estado activo.
- isso faz as pedras rir!
- a mim não. e nem sorrir. só cerro. com força. a mão.

Rafael Bordalo Pinheiro