photo by Darlyne A. Murawski
dê lá por onde der (falta de imaginação ou de fortuna) a gente passa a maior parte do tempo útil de vida, onde trabalha. os que nunca pagaram nem pagarão impostos trataram de alongar-nos isso mais. não faz mal. até gosto do onde estou e de alguma da gente que há por lá. afinal já lá vão vinte anos de convivência, nalguns casos de amizade real.
mas isto vem a quê?
vem de um neologismo que aprendi outro dia à saída da consulta da médica (sim, que nós temos essa excelente coisa de não sermos obrigados a ir ao centro de saúde por consulta - ganhamos nós e os patrões, é óbvio).
é certo que na casa se praticam os aumentos tipo função pública, isso eu sabia já. o que ainda não sabia e, constatei, é que quem avaliava a necessidade ou não daquela medicida (que não é a de trabalho) era um técnico alheio à área da saúde. técnico cuja formação eu desconheço. mas lá que é técnico é. e pronto, a vida é assim mesmo. com jeito toda a gente sobe menos eu. não tenho jeito para essas coisas de subir.
já me alonguei demais. é assim em todo o lado. cada um tem o país que permitiu.
o que aprendi foi o verbo melgar.
no fim de várias consultas. a última foi a minha, sai um génio do seu gabinete e interpela a doutora:
"temos de conversar!" assim, sem mais aquelas, qual patrão a ameaçar processo.
os outros colegas a escutar e... eu. é só educação!
que não podia ser, demorar tanto tempo a atender "quem vem para aqui melgar" (sic) "ou se está doente precisa de ir a outro lado" (sic). e outros mimos de polidez e de responsabilidade.
a médica ainda balbuciou se deveria usar uma ampulheta para contar o tempo e despachar pessoal.
ele nem a ouviu. a bilis tinha-lhe subido à verve e melgou a senhora até se cansar.
se ali houvesse alguém cheio de saúde e respeito por si, adoecia só de o ouvir.
mas se a melga era eu, estive tão à beira da ferroada, que só a paciência que a idade me deu e, sobretudo ele estar fora do campo de visão, me impediram de lhe espetar o ferrão na língua mesmo.
deram-me as receitas carimbadas e voltei ao trabalho, mas a pensar.
- será que vamos imitar a função pública em tudo o que ela tem de pior e pôr a conduzir a arte de curar, gente que tudo o que sabe é usar calão e obedecer a his master's voice?
só os próximos capítulos o dirão.
mas pelo sim pelo não quando voltar à médica, levo o dum-dum, o tal que mata que se farta, porque para zumbidos daqueles o Raid casa e plantas já é completamente ineficaz.
image from nyholt
ou o ainda de melhor efeito - zaz!