15/01/2008

corre-me nas veias um rio de Fé!

image by Pierre Langlois


hoje há loucura no tempo.

as águas correm a avisar-me, tão cúmplices que são!


- busca as palavras simples! corre tu como nós e vai buscá-las

conta as histórias difíceis em palavras que as crianças entendam


porque falam as águas de crianças?

perdi as minhas de vista há tanto tempo


- quem te falou de ter? nunca nada foi teu. busca as palavras simples

nada mais te compete no percurso que te cabe na terra, ao tempo que te sobra.


tento entender. palavras. esqueci tantas. de propósito. e nada mais me sai:


- ignorem o Papa, o Vaticano inteiro! rezem ao ar livre sempre, de frente para quem chegar!

não virem as costas a nenhum ser vivo da terra se pensam em Deus e em falar-lhe.

ninguém os ouvirá e receberão em troca os "vendavais" de "quem semeia ventos"

ou seja, o eco das vossas orações tolas, perdidas, viradas para dentro, impartilhadas.


image by Assunta


o meu corpo atira-se para a frente em busca de palavras. já não sei o que digo.

não sei porque é que o digo. não consigo é parar


- amem. sobretudo amem! nos cafés, nas gares, nos jardins. nas ladeiras doridas de subir.

amem pobres e ricos e falem desse amor. gritem o amor até ensurdecer

os pálidos apáticos sonâmbulos seres conformes a regras de esconder verdades

do tamanho do sol com tecidos brancos do tipo gaze ou tule.

vivam o amor. gritem o amor. procriem. rebelem-se. é a vossa hora. não sei mais...


caio na margem

a água benévola do rio refresca a minha febre e, súbito

que paz!

14/01/2008

pronto, ganhei mais um prémio. :)

o Lumife do Beja, escolheu-me com mais nove blogueiros para receber este prémio, que honra quem quer que seja que preze a Liberdade. isso eu faço.

lá merecer o prémio... o critério foi dele e eu agradeço.
cabia-me escolher mais dez blogs a quem passar a honraria recebida. isso vai demorar um pouco mais. tenho de dar uma voltinha pelos amigos , coisa que não tenho feito há já uns dias, não vá o diabo tecê-las e começar para aí a dar duplicados de prémio.
feito isso virei a este post pôr a lista. bem, se não forem dez serão três, cinco ou sete. vocês conhecem-me... não sou dada a cadeias.

Lumife, amigo, obrigada.

09/01/2008

abraço (te)

image Gordon Campbell

a massa de água do rio, branca do inverno limpo, segue o caminho da paz que para ele é chegar à foz sem mais tropeços que as pedras que há incontável tempo se acostumou a contornar ou sobrepor.

o rio corre. eu corro-me. percorro-me à beira rio. reencontro-me. tacteio-me. a ter a certeza de ser ainda verdade. de ser ainda eu. de o meu sangue não ter embranquecido na descida aos infernos da memória.

Ed Gordon Photography

sou quem sou. agradeço. há que agradecer sempre, seja ele a quem for, todas as graças. sobretudo as pequenas. as que os outros não vêem mas são as que nos nutrem dia a dia.

à beira água sei-me. sou aquele corpo. aquela voz. aquela idade. aquela pele que se vai esbranquiçando com o tempo até se assemelhar à cor clara do rio. na vontade incessante de nele se vir a confundir.

'Sunrise' by Jane Fulton Alt

sei-me de novo e por isso de novo te abro os braços, que ficarão vazios na direcção da corrente do rio. ninguém para eles correrá.

mas que o que foi passado me perdoe se for isto pecar, enquanto se chamar vida ao que desde há pouco, de novo sonho e sinto, não desisto de amar.

08/01/2008

na noite branca, aos "pulus " "sem balanço e a pés juntos"

image by turku_web

a aranha estava lá, na entrada da porta. ninguém entrava ou saía sem a ver. de claro vestida como a teia urdida. a aranha não soube ser aranha. só soube tecer teias.

as aranhas são hábeis na arte de passar despercebidas para atacar depois a presa incauta.

falharam duas coisas essenciais, a discrição da aranha e a falta de cautela da presa apetecida.

mas a aranha não deixou de estar lá. o tempo todo. sem se aquietar um pouco. não fez juz à fama de predador astuto.

- que faz uma aranha num vespeiro? é luta inglória. ou quererá envenenar tanta vespa de uma picada só?

comentava-se à esquerda. ao centro nem a viam. os da direita riam ou melhor, maldiziam.

*

saí. era noite mas havia sol na rua. o sol dos amigos que o são. que o foram desde o que parecem séculos. rimos , abraçámo-nos. fizemos projectos para eventos que quem sabe se concretizarão ou não. isso que importa? respirámos o mesmo ar são.

o que tinha visto era bom? era mau? também não importava. para quem não conhecia o escritor era sobretudo muito melhor que o nada feito até agora, com excepção das entrevistas que só aproveitaram a quem as deu.

as versões, no documentário, vindas de primos e amigos, essas não me espantaram. como diria um conhecido meu: "nestas coisas, os que concordam dizem que sim, os que discordam dizem que não." ali não foi diferente.

ficou pelo menos claro que "U Omãi qe Dava Pulus" dava "pulus" grandes. tão grandes que a muitos que dizem conhecê-lo , ainda hoje lhes sai "pêlo tôpu".

fim de estação.

*

a aranha? bem, a aranha de facto estava lá. fora de sítio mas isso é seu costume. não que eu tenha alguma coisa contra a beleza das teias mas não lhes caio dentro por terem visco a mais. aprendi isso em menina, descalça pelos montes. já nessa altura aos "pulus", eu também.

07/01/2008

a gente vê-se por aí ...

Luíz Pacheco (foto gamada não me lembro de onde)

Luiz Pacheco (1925-2008).


Foi muito tempo, Luiz.
Que os deuses não permitam que eu dure tanto num lar qualquer ou na rua.

Raios os partam! escritor maldito?

Maldita hipocrizía.

A gente reencontra-se por aí como sempre

Obrigada pelos chocolaste que me deste aos vinte anos comprados com o dinheiro das esmolas da Igreja do Carmo.

"aquilo era para os pobres... eu sou pobre, tirei."

Se vires o Carlos, manda-lhe o que ele sabe que lhe quero mandar. E nada de perguntas indiscretas. Grande descarado! :)

Se houver um outro lado, grande festa havemos de fazer!

Beijo, rapaz e, Paz! ( ou entáo: pás!)


RIP

04/01/2008

uma flor que te nasceu

Blooming during the storm, is it possible? :)


saída da tempestade, tímida, junto ao solo

uma flor, hoje, abre-se para ti



como se fosse primavera e o sol brilhasse

como se meio ao inverno, além de ti, hoje

nada mais, a ela e a mim , nos importasse

02/01/2008

chove e é bom.

image by Yury S

cresce o alívio em mim. durmo na terra. confundo-me com ela. sinto-lhe o bafo frio de inverno mas quente de mãe. sei que me dá todo o calor que pode. a terra tem sempre algum calor para dar.

avanço no silêncio da noite e caio num sono sem pesadelos já. respirei fora. só me faltava isso. respirei fora o veneno que havia no fungo venenoso servido, com requintes, ao jantar.

"quem não sabe florestas não deve oferecer fungos". um último bocejo e o sono vence.

súbito a temperatura sobe. são quatro da manhã. a chuva cai como um rio em cascata e eu faço amor como quem reza ou chora de alegria.


image Lutz Behnke

numa partilha com o cosmos que me deu a água abençoada, ofereço-lhe o prazer e a energia do amor redondo, circular, de um corpo para outro e de ambos para deus.

é uma oferenda boa. é o milagre de saber estar vivo e pouco importa se estou a sonhar.