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25/04/2009

Renovação

a Madonna of the carnation at Wikipedia


ensina o cravo aos teus filhos

como quem conta um segredo

como quem lhes dá o leite


como quem lhes sara o medo

de ser de rir de viver!


ensina o cravo aos teus filhos

faz Portugal renascer



desta sombra deste baço

desta memória cansada

de uma Vitória que foi

grande livre e encarnada

toda cor e felicidade

toda Paz e Alegria

Fé no Futuro

e vergonha de um passado a não esquecer

para que não se repita

não vá Portugal morrer.

02/12/2008

"bife da vazia"

by Jordi AC


já corre livremente a água pelas encostas.

os animais saem dos abrigos ao primeiro raio de sol. o pão não vem com a chuva. cresce dela.


também é essa a hora de predar. os mais fortes. ou não? os mais astutos. movem-se sorrateiros na esperança de fragilidades outras ou dos outros. são os carníveros. grandes senhores da vida ensanguentada de carne tenra. seja o bife da vazia mal passado ou a ave em voo titubeante que lhes caiu nas garras. num golpe de asa a nunca terminar.


a época da chuva é no entanto boa. lava. lava a mente de se saber tudo isto e disto nos atormentar o sono e embaciar o olhar.


há quem lhes escape. ao abrigo dela. há quem saiba escorregar devagarinho pelas ladeiras de lama ou neve até se afastar. de vez. das enormes bocarras. sempre abertas. prontas a devorar.


só não há água que lave os cantos ensanguentados da boca dos carníveros. o sangue congelou ao escorregar dos beiços salivantes de gula. e mancha de sangue sempre foi uma nódoa difícil de tirar.


12/09/2008

violência de onda ao Vento

wave-ocean-blue-sea-water-white-foam-photo


manhã. cedo demais para quem se deitou tarde e não pode ainda trabalhar. manhã. cedo demais. ergui-me com violência de onda, da cama onde dormia.


- a tensão ocular. cuidado!- a consciência a querer falar comigo. a consciência. tonta. devia já conhecer-me melhor.


é só o vento. disse à minha cadela que não estava. hábitos.


é o Vento. disse a mim própria e deitei-me depois de olhar as horas.


dormi o quanto pude. depois disso. dormi ao som do vento. das obras. das crianças do jardim infantil que dá para o meu quarto. dormi?


dormi.



image by Finch Yelliott


a tua mão no meu ombro. a minha mão sobre ela - é quanto lembro - a tua angústia - eu vou sair daqui! ninguém aqui me quer. - a tua angústia tinha som da minha. não era a minha.


- não pode. não pode. e eu? não conto?


- contas. mas é a hora de ir.


caminhávamos. um corredor afunilado. um corredor prisão. havia gente atrás. de ti. de mim só tu.


a minha mão sobre a tua. no meu ombro. começou a aquecer. acordei com dor de queimadura. a mão estava erguida na certa direcção.


fora da roupa. exposta. toquei-a. ardia. como se uma febre a tivesse acometido.


àquela mão. à mão que te tocara.


não voltei a dormir.


o que é que foi verdade neste sonho?


eu.

e a tua mão sobre a minha couraça?

11/09/2008

falta-me um livro

image by Konzerthaus Dortmund

tantos livros já li. quase quantos esqueci. não minto. os livros são como as pessoas que passam por nós. às vezes nem as ouvimos. fixamos o olhar nelas e deixamos correr o fluxo de sons que trazem dentro.


depois despedimo-nos. com pressa e cansaço e seguimos em frente.

sacudindo a cabeça a atirar para fora dela uma vida assim, absurdamente, recebida .
o mesmo fiz. faço. com os livros que me são alheios ao sentir.


abro-o duas três vezes e não me prende mais do que o olhar. é a hora de o por de lado e dizer alto - este fica para a reforma. já está comprado e sempre há-de ser melhor que ler jornais na pastelaria da esquina.


sou esquisita em leitura. ou burra. mais por aí. se não entendo o que leio salto fora.


quero lá saber se o erudito que escreveu aquilo ganhou todos os prémios. quem sabe o nobel mesmo. se não entendo... não está em português.


isto tudo porquê?


ah. é que me faz falta um livro à antiga. escrito a sangue. um livro com as letras mais espessas que todos os aparos de canetas ou teclados de computador.

um livro que...


um livro música que sangre pelo meu diapasão de intensidade. de dor e... a tal palavra que não escrevo.