30/07/2008

o empurrão para o fim ____ e os Amigos.

image at photodelusions


quando me despenhei ___ julguei ter chegado a Hora

rolei encostas desfazendo a pele___ deixando lascas de músculo para trás

nas pedras da descida


quando me atiraram do penhasco


nem os braços estendidos____ dos amigos____nas margens

me permitia ver.


Ro-do-pio

ver-ti-gi-no-so!


cega a tudo que não fosse aquele rolar. esfacelante. encosta abaixo


image by trinchetto



ao deixar de pensar reergui a cabeça. mais à tona de água


não há descidas infinitas. não há inferno sem paz. por fim.


a planície acolheu-me e os braços dos amigos____ ramadas estendidas


nunca


tinham deixado de estar lá.


sei agora o sítio exacto aonde estão e quantos são.


árvores benditas


a impedir que voltem a fazer-me____transbordar.



25/07/2008

tempo perdido recuperado

photo by George Koutsilieris


repenso-te.

tenho andado meio afastada de ti. não porque queira. não porque não te sinta ou te sonhe. só porque há muita gente a querer tirar-me a paz. nada de novo. foi assim desde sempre. incomodo só por respirar.

perdi muito tempo a perguntar-me e a outros o porquê dessa sanha. se eu só queria viver sem interferir com a vida de ninguém. respostas? houve. e iam sempre dar ao mesmo: - a tua independência fere os inseguros.

- e eu com isso? - pensava e seguia caminho. era jovem e isso era-me fácil. hoje ainda é. o que passou a ser difícil foi dar a outra face. quando muito, ainda uso luva de renda na hora de retribuir. mas retribuo.

tanta hipocrizia, meu amor, tem assolado estes tempos que vivo! conseguirei manter a luva sem que ela se rasgue. se insistirem? duvido.


pronto. desabafei. ao diabo as criaturas do diabo! ao diabo o novo-riquismo cultural de gaiatos sem história e sem educação (onde a perderam? tinham!).


o que de facto me aborrece é o tempo que perdi a não pensar em ti.


mas vou contar-te.



by tinyfishy


ontem. a descabida hora e pensamento. as tuas asas passaram pelo meu cérebro. roçagaram quase com som de brocado em vez de seda. sorri. deixei o que estava a fazer. olhei para o lado. eras tu. foi um instante silencioso esse de me surgires assim. do nada. ri . não nos venceram.


confesso. mais uma vez me deixaram a sensação de só ter perdido um precioso tempo (todo o tempo se é pouco já, é precioso).


guardei a luva de renda na gaveta das fotografias que não quero ver e saí para a rua. sorria.


sorria-te.


são as asas dos que me amam ou eu amo que sempre me devolvem o voar.


bom fim de semana. sê feliz!



21/07/2008

sangue. corrente

Photo by Bowden Quinn


a água do meu sangue converteu-se

por três vezes. únicas. demarcadas

em água pura


rios. três.

de início pareciam riachos alegres . saltitando socalcos

pequenas pedras dos caminhos da vida



falava-se da sorte que tivera


- "rios de sangue bom são água sã!"


o orgulho que eu, vaga nascente, sentia
ao escutar

chamar ao resto do meu sangue espalhado no mundo

boa água!


que mais se pode dar. merecido. à terra Mãe

que água de bem?



não há rios iguais...


um deles corre agora subterrâneo

por sombrias montanhas

e no verão

resta uma mancha de água exposta ao ar

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dava todo o meu sangue. cor vermelha

para ver esse meu rio chegar ao mar...

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a veia está aberta

jorro a vida. fora.



rio de sangue de mãe é coisa pouca

e tudo quanto tenho


usa-o. filho. vai ter de te bastar.


19/07/2008

Intervalo

Strategy of the spider or just a blind grub ?

foto de madalena pestana

Estratégia da aranha ou só uma larva cega?

II - The spider knew how to attract naive insects for an attractive and round flower  ...

foto de madalena pestana


a aranha sabia como atrair insectos ingénuos para uma casa redonda e apetecível...


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o fim da história?


- ainda está por contar.





Paroedura stumpffi eating spider at bluechameleon.org


_______


fim do intervalo




16/07/2008

há rios que salvam

foto madalena pestana


a casa intemporal que usei na vida

cobriu-a o verdete do tempo e as trepadeiras sugadoras de sangue verdadeiro

foram-se o tecto e as paredes. fiquei a céu aberto.

de início não me pareceu mau. ainda havia ar

o indispensável ar que revigora o cérebro de quem pensa.

mas pensar é um acto subversivo. mais agora. outra vez.

vieram as pessoas-peste. apocalípticas. envenenaram até essa riqueza que sobrara.

não me restou mais nada. só a memória de sonhos alimentava ainda quem eu fora.



image by James Newman


sobrevivência.

escrevo a cor das paredes com os olhos da imaginação. visto-as a mar espuma e areia quente. durmo.

ao dormir poupa-se muito ar. escapo assim ao envenenamento e ao inverno frio.



image by owlpen

acordo.

abriram uma janela na casa que inventei. entra por lá o sol que eu já nem via. tinha cegado (cegado por vontade de não querer ver mais ?) e a luz reaquece a minha alma. as plantas reverdecem.

agora há sombras apenas onde o sol as quiser.


a casa tem volume. existe. realmente.


aprendo uma nova realidade: a minha casa é o espaço aonde, em paz com o amor e a verdade, me deixarem viver.


segue o curso sinuoso do meu rio.

corro. sei que há rios que me alargam o caudal e é urgente encontrar.


14/07/2008

espero

Ed Gordon Photography



espera

na espera ganham-se defesas

prazeres novos


aguçam-se desejos

esperei-te

tanto parecias pedir que te esperasse


quando vinhas a água sabia a sumo de uva pura


coisa de deuses gregos

e de santos




foi na espera que mais te conheci


traço a traço de ti refiz na memória quem tu és



olhos de águia gigante. fingindo não o ser

boca a arder em fogo e cerrados os lábios


na mansidão da voz desenganos contidos


de senhor de destinos


que não pode. não se permite soçobrar



esperei-te e a cada dia conheci-te


como nem eu sabia ser capaz




faço agora da espera a minha forma de dizer

amor

como outros criam ódio e alguns tentam a paz


11/07/2008

falando de homens

image at soundwerx.com


os homens enlouquecem no verão - a frase não é minha. por isso é mais verdade.

é o calor. o seco. os fluídos que condensam. irritação. desgaste. tão esperado o calor e só sobra suor. - os homens enlouquecem.

correm para o colo da mulher mais próxima a procurar o fresco. que não há. uma com lágrimas. serviria bem. mas as mulheres (excepto as já muito velhas) sabem que os homens enlouquecem no verão. não choram. quando muito guardam-lhes os cadáveres. resultantes das fúrias. em armários. são coisas de mulher (de algumas só). esconder crimes para não perder o que chamam amores.

de crime em crime. de condensado sexo. se vai fazendo o verão. e de mentira.
as mulheres precisam acreditar que a culpa foi do cadáver, para que o escondam. então, os homens loucos, mentem. até onde a imaginação for aceite por quem escuta.

os homens enlouquecem no verão. como lidarão eles com os esqueletos guardados nos armários quando o inverno chegar?

07/07/2008

7 horas am

at PortugalGuiden


estranho o psiquismo

estranho. estranho o jogo

que jogamos

de nós para connosco



adormeço. amorfa

apagada chama

de quem já não quer nem chama ninguém

nem por cão. por gato. ou nome de mãe.


amorfa

esperando nada. além do sono

tão parecido à morte

tão ensaio dela. chega a saber bem...




estranho. estranho jogo!

acordo de um sonho a rir. alto som

qual morte. qual fim?


que sabor a água corrente. na cara. teve aquele sonho


pela segunda noite. do segundo dia. antes de te ver



a morte vem quando?


quero lá saber?! há-de vir por certo


quando eu não tiver vontade de rir.



ainda assim. creio. vai ser dura a luta

com um inconsciente

feito pura água. que ri. gargalhando

saltando nas pedras. tão criança à solta .




a cara sisuda não resiste ao espelho


com os olhos a rir. saio para a rua



uma hora mais cedo. bem pela manhã.