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17/11/2008

os Mestres

image by Al Magnus


na infância perdida encontram-se os poetas e os santos


os poetas voam na arte de sonhar alto

num mundo onde se morre de morno desespero

os santos querem ser deuses e sabem que não podem lá chegar

então conformam-se em ser bons ou mártires


e assim, como num jogo e a brincar, nascem os grandes mestres

de sofrer.

06/10/2008

pianíssimo

Waiting For You by Renee Jinkins



a espera é um nome enrolado em tempo


tempo velho como manta de avô


a espera tem a medida de quem a vive


de tanto esperar sonho e falo contigo


fiz um poema longo que ainda me entoava ao acordar


"realidade.realidade.realidade...." pianíssimo agora - "realidade.realidade...."


entremeavas compassadamente - "facto.facto.facto"


ao despertar só me sobrara isto. a vizinha abriu-me para o dia


com o som odioso dos sapatos que a fazem parecer um elefante em pontas


tu esfumaste-te. com outro rosto já


facto? mas que facto? se o que tenho não é mais que ilusão


terceira idade da memória de querer. de ser. de desejar



eram só 6.30 da manhã. cedo demais para o banho matinal


tarde demais para readormecer. ficou-me mais um poema por viver.

30/09/2008

deus dinheiro

photo by Yuri Bonder



vejo a vida passar. nada me prende os olhos. flutuam


a verdade é um espelho envelhecido


a realidade. essa. invade-me os ouvidos sem nada ter de meu

não me movo. fumo o tempo. deixo que se consuma



só há um nome para os valores de agora. e não o digo


uso-o no essencial. se há resto, segue por outra vida fora




corre-me um rio de raiva. borbulha-me nos sonhos


já nem tu te sobrepões à força do caudal



fujo. escondo-me. como um animal


acossado pelo próprio instinto



fujo. fujo de quê? face ao valor maior eu nada sinto...


12/09/2008

violência de onda ao Vento

wave-ocean-blue-sea-water-white-foam-photo


manhã. cedo demais para quem se deitou tarde e não pode ainda trabalhar. manhã. cedo demais. ergui-me com violência de onda, da cama onde dormia.


- a tensão ocular. cuidado!- a consciência a querer falar comigo. a consciência. tonta. devia já conhecer-me melhor.


é só o vento. disse à minha cadela que não estava. hábitos.


é o Vento. disse a mim própria e deitei-me depois de olhar as horas.


dormi o quanto pude. depois disso. dormi ao som do vento. das obras. das crianças do jardim infantil que dá para o meu quarto. dormi?


dormi.



image by Finch Yelliott


a tua mão no meu ombro. a minha mão sobre ela - é quanto lembro - a tua angústia - eu vou sair daqui! ninguém aqui me quer. - a tua angústia tinha som da minha. não era a minha.


- não pode. não pode. e eu? não conto?


- contas. mas é a hora de ir.


caminhávamos. um corredor afunilado. um corredor prisão. havia gente atrás. de ti. de mim só tu.


a minha mão sobre a tua. no meu ombro. começou a aquecer. acordei com dor de queimadura. a mão estava erguida na certa direcção.


fora da roupa. exposta. toquei-a. ardia. como se uma febre a tivesse acometido.


àquela mão. à mão que te tocara.


não voltei a dormir.


o que é que foi verdade neste sonho?


eu.

e a tua mão sobre a minha couraça?

09/09/2008

estátua de amor

The turtle seemed a statue until the moment at I saw it in motion


a tartaruga parecia uma estátua antes de eu me afastar. nada a faria mover a não ser a minha ausência.

queria tanto ser como uma tartaruga. antiga. como ela. couraçada. como ela. não saber da palavra amor. nunca ter entendido a palavra sequer. como ela.

mas lembro-me de ti. todos os dias. mesmo assim recuso dizer-escrever de novo, a palavra misteriosa do sofrimento.

do sofrimento sim. nunca amei sem sofrer.

não direi amo-te a mais ninguém. talvez no fim. na hora do último olhar antes do escuro, atire um inaudível grito - AMO-TE!

se te chegar. do longe. um arrepio, sem que haja frio ou brisa, era para ti o grito.

nem assim escutarás a palavra amo-te dita pelos meus lábios. tu ou quem quer que seja.

amo em silêncio. porque sei que o silêncio me ama.

talvez por isso só me atreva a amar-te no sonho. pela noite. com a noite.

mas o sonho é o sonho. e reservo-me o direito de sonhar. até ao fim.


foto de madalena pestana

21/07/2008

sangue. corrente

Photo by Bowden Quinn


a água do meu sangue converteu-se

por três vezes. únicas. demarcadas

em água pura


rios. três.

de início pareciam riachos alegres . saltitando socalcos

pequenas pedras dos caminhos da vida



falava-se da sorte que tivera


- "rios de sangue bom são água sã!"


o orgulho que eu, vaga nascente, sentia
ao escutar

chamar ao resto do meu sangue espalhado no mundo

boa água!


que mais se pode dar. merecido. à terra Mãe

que água de bem?



não há rios iguais...


um deles corre agora subterrâneo

por sombrias montanhas

e no verão

resta uma mancha de água exposta ao ar

______________


dava todo o meu sangue. cor vermelha

para ver esse meu rio chegar ao mar...

______________

a veia está aberta

jorro a vida. fora.



rio de sangue de mãe é coisa pouca

e tudo quanto tenho


usa-o. filho. vai ter de te bastar.


07/07/2008

7 horas am

at PortugalGuiden


estranho o psiquismo

estranho. estranho o jogo

que jogamos

de nós para connosco



adormeço. amorfa

apagada chama

de quem já não quer nem chama ninguém

nem por cão. por gato. ou nome de mãe.


amorfa

esperando nada. além do sono

tão parecido à morte

tão ensaio dela. chega a saber bem...




estranho. estranho jogo!

acordo de um sonho a rir. alto som

qual morte. qual fim?


que sabor a água corrente. na cara. teve aquele sonho


pela segunda noite. do segundo dia. antes de te ver



a morte vem quando?


quero lá saber?! há-de vir por certo


quando eu não tiver vontade de rir.



ainda assim. creio. vai ser dura a luta

com um inconsciente

feito pura água. que ri. gargalhando

saltando nas pedras. tão criança à solta .




a cara sisuda não resiste ao espelho


com os olhos a rir. saio para a rua



uma hora mais cedo. bem pela manhã.


18/12/2007

Felicidades!

Imagem de Frederic Larson


Entra uma luz forte no nevoeiro. Dizem-me que é Natal

Não entendo mas sou de acreditar. Vejo as lojas pejadas. Os embrulhos

as crianças ansiosas numa espera de não acabar mais

É Natal. Tem de ser. Ainda lembro – tanto sonho!


Envelheci. O sonho esbate-se com a cor dos cabelos

Não há Menino Jesus pela chaminé a encher o sapatinho de bonecos

(ah, e muito menos Pai Natal! Com metralhadoras made in China)

Nem renas, nem sininhos, nem neve a cair sem estrondo no presépio.


Sempre que vejo esperança em olhar alheio, arrecado-a no meu

à laia de presente roubado, que a Esperança não é coisa de comprar...

Também olho os sem Esperança, a esses passo a minha, acabadinha de roubar

O meu Natal é só troca de Esperança. E haverá melhor coisa para trocar?




Madalena Pestana

PS - este blog entra de férias até para o ano que vem. :)