31/12/2008
25/12/2008
17/11/2008
os Mestres

os poetas voam na arte de sonhar alto
num mundo onde se morre de morno desespero
os santos querem ser deuses e sabem que não podem lá chegar
então conformam-se em ser bons ou mártires
e assim, como num jogo e a brincar, nascem os grandes mestres
de sofrer.
06/10/2008
pianíssimo
a espera é um nome enrolado em tempo
tempo velho como manta de avô
a espera tem a medida de quem a vive
de tanto esperar sonho e falo contigo
fiz um poema longo que ainda me entoava ao acordar
"realidade.realidade.realidade...." pianíssimo agora - "realidade.realidade...."
entremeavas compassadamente - "facto.facto.facto"
ao despertar só me sobrara isto. a vizinha abriu-me para o dia
com o som odioso dos sapatos que a fazem parecer um elefante em pontas
tu esfumaste-te. com outro rosto já
facto? mas que facto? se o que tenho não é mais que ilusão
terceira idade da memória de querer. de ser. de desejar
eram só 6.30 da manhã. cedo demais para o banho matinal
tarde demais para readormecer. ficou-me mais um poema por viver.
30/09/2008
deus dinheiro
só há um nome para os valores de agora. e não o digo
uso-o no essencial. se há resto, segue por outra vida fora
corre-me um rio de raiva. borbulha-me nos sonhos
já nem tu te sobrepões à força do caudal
fujo. escondo-me. como um animal
acossado pelo próprio instinto
fujo. fujo de quê? face ao valor maior eu nada sinto...
12/09/2008
violência de onda ao Vento
manhã. cedo demais para quem se deitou tarde e não pode ainda trabalhar. manhã. cedo demais. ergui-me com violência de onda, da cama onde dormia.
- a tensão ocular. cuidado!- a consciência a querer falar comigo. a consciência. tonta. devia já conhecer-me melhor.
é só o vento. disse à minha cadela que não estava. hábitos.
é o Vento. disse a mim própria e deitei-me depois de olhar as horas.
dormi o quanto pude. depois disso. dormi ao som do vento. das obras. das crianças do jardim infantil que dá para o meu quarto. dormi?
dormi.

a tua mão no meu ombro. a minha mão sobre ela - é quanto lembro - a tua angústia - eu vou sair daqui! ninguém aqui me quer. - a tua angústia tinha som da minha. não era a minha.
- não pode. não pode. e eu? não conto?
- contas. mas é a hora de ir.
caminhávamos. um corredor afunilado. um corredor prisão. havia gente atrás. de ti. de mim só tu.
a minha mão sobre a tua. no meu ombro. começou a aquecer. acordei com dor de queimadura. a mão estava erguida na certa direcção.
fora da roupa. exposta. toquei-a. ardia. como se uma febre a tivesse acometido.
àquela mão. à mão que te tocara.
não voltei a dormir.
o que é que foi verdade neste sonho?
eu.
09/09/2008
estátua de amor
a tartaruga parecia uma estátua antes de eu me afastar. nada a faria mover a não ser a minha ausência.
queria tanto ser como uma tartaruga. antiga. como ela. couraçada. como ela. não saber da palavra amor. nunca ter entendido a palavra sequer. como ela.
mas lembro-me de ti. todos os dias. mesmo assim recuso dizer-escrever de novo, a palavra misteriosa do sofrimento.
do sofrimento sim. nunca amei sem sofrer.
não direi amo-te a mais ninguém. talvez no fim. na hora do último olhar antes do escuro, atire um inaudível grito - AMO-TE!
se te chegar. do longe. um arrepio, sem que haja frio ou brisa, era para ti o grito.
nem assim escutarás a palavra amo-te dita pelos meus lábios. tu ou quem quer que seja.
amo em silêncio. porque sei que o silêncio me ama.
talvez por isso só me atreva a amar-te no sonho. pela noite. com a noite.
mas o sonho é o sonho. e reservo-me o direito de sonhar. até ao fim.
foto de madalena pestana
21/07/2008
sangue. corrente
resta uma mancha de água exposta ao ar
jorro a vida. fora.
07/07/2008
7 horas am
de nós para connosco
adormeço. amorfa
apagada chama
de quem já não quer nem chama ninguém
nem por cão. por gato. ou nome de mãe.
amorfa
esperando nada. além do sono
tão parecido à morte
tão ensaio dela. chega a saber bem...
estranho. estranho jogo!
acordo de um sonho a rir. alto som
qual morte. qual fim?
que sabor a água corrente. na cara. teve aquele sonho
pela segunda noite. do segundo dia. antes de te ver
a morte vem quando?
quero lá saber?! há-de vir por certo
quando eu não tiver vontade de rir.
ainda assim. creio. vai ser dura a luta
com um inconsciente
feito pura água. que ri. gargalhando
saltando nas pedras. tão criança à solta .
a cara sisuda não resiste ao espelho
com os olhos a rir. saio para a rua
uma hora mais cedo. bem pela manhã.
18/12/2007
Felicidades!
Entra uma luz forte no nevoeiro. Dizem-me que é Natal
Não entendo mas sou de acreditar. Vejo as lojas pejadas. Os embrulhos
as crianças ansiosas numa espera de não acabar mais
É Natal. Tem de ser. Ainda lembro – tanto sonho!
Envelheci. O sonho esbate-se com a cor dos cabelos
Não há Menino Jesus pela chaminé a encher o sapatinho de bonecos
(ah, e muito menos Pai Natal! Com metralhadoras made in China)
Nem renas, nem sininhos, nem neve a cair sem estrondo no presépio.
Sempre que vejo esperança em olhar alheio, arrecado-a no meu
à laia de presente roubado, que a Esperança não é coisa de comprar...
Também olho os sem Esperança, a esses passo a minha, acabadinha de roubar
O meu Natal é só troca de Esperança. E haverá melhor coisa para trocar?
Madalena Pestana
PS - este blog entra de férias até para o ano que vem. :)