30/07/2010
Na hora em que partiste, António Feio
"A tragédia e a sátira são irmãs e estão sempre de acordo; consideradas ao mesmo tempo recebem o nome de verdade." - Dostoievski
Tu António, seguramente conheceste a Verdade.
Também soubeste o significado desta canção. Até a máquina não permitir mais!
Obrigada António Feio por teres cumprido a vida que te coube.
Até breve.
Madalena
25/07/2010
...pois é
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- não. é treta sem conversa e se é de gente não sei. não lhe quero ver os dentes para saber se ele é vampiro.
- para. é aqui que eu respiro fundo de tanto absurdo. pensava que gente assim ou já tinha mais de 80 ou tinha deixado o mundo com uma pedra ao pescoço.
- pois é. mas este sobrou. pelo menos por agora. fiz uma pausa na Vida. não sei quando chega a Hora de lhe mostrar de uma vez de que é feita uma Mulher.
- olha com quem se meteu o raio do cromo. coitado!
mas ele é chefe de quê?
- de mim, pelo que entendi e bem pouco mais do que isso...
de manhã vem direitinho. controlado. atormentado. sem vontade de um sorriso. não que se note a diferença. aquilo, é cara sem rosto.
- e de tarde, é diferente? fica mais homem, mais gente?
- não. de tarde é pacote inchado, coisa de chefe à Bordalo. apetece até furá-lo e ouvir o ar a sair.
pior?... era o cheiro a mosto que eu teria de sentir.
- ah. então está tudo explicado. e... dá-lhe uma de sargento?
- sim, com divisas de cabo. e eu vou contando até 100 para ver se o aguento.
ele são bocas foleiras e queixinhas e rasteiras. enfim. coisas do antigamente que só vejo repetir em pessoas mal formadas a quem deram, por engano quero crer e por tempo limitado, uma réstea de poder.
- ele será afilhado?
- que eu saiba não. tu conheces-me. não sou dada a essas tricas.
mas verá televisão e logo logo a seguir ensaia ao espelho. para imitar. um conhecido e de "má fama" engenheiro. e assim se julga patrão.
- pois é. parece que está na moda essa de ser prepotente. mas os tempos vão mudar. mudaram já e em tempos muito piores. onde os dessa laia eram bonecos de outros senhores.
- por mim podes apostar. nem que seja a única coisa a fazer em estado activo.
- isso faz as pedras rir!
- a mim não. e nem sorrir. só cerro. com força. a mão.

Rafael Bordalo Pinheiro
28/05/2009
21/05/2009
passo a passo

ninguém em volta. só vozes a esquecer. minutos a esquecer.
as costas doem. terá sido da queda em mar-deserto?
voltar ao barco por ora é impensável.
tem nos ouvidos a voz de morto-vivo do contra-mestre no convés.
- acorda. olha. faz. depressa. temos pressa em ver terra.
ele. que não veria terra nem por baixo dos pés!...
- dêem-lhe a garrafa de rum talvez assim se cale!
pensava o marinheiro em silêncio. em silêncio o gritou vezes sem conta até ser vencido. a vertigem. depois caiu ao mar. ao mar. deserto.

será a etapa de hoje. o de hoje passo a dar.
em nenhum outro espaço se atreve a adormecer. por todo o lado há répteis à espera do fim. para atacar ou ocupar lugar até no crânio, do que vêem como carcaça velha.
* in Ode Marítima - por Álvaro de Campos
19/05/2009
1º passo

o murro na mesa não bastou.
romper grilhetas?
nisso feriu os pulsos fracos. de fêmea
que de dor já suportou que baste
- a de parir. sem glórias de ver crias vencer. e outras demais -
estancou. o curso de água
ou deixou ela de o ver escoar no dia a dia.
do rio dos olhos secou-se a liquidez. de tanta poeira ardente nas infinitas e
desertas horas

alerta. qual gajeiro em mastro real
a quem é permitido só___cegar de tanto sal
sem descansar
sentiu. mesmo sem ver. a náusea da ondulação.
entonteceu.
despenhou-se. no mar.
05/05/2009
perguntem à morte

quase. quase morta. num canto. esquecida.
sem rumo. sem eira. sem beira. sem rio a correr-lhe aos pés
só um mar dançante. batendo. definindo covas

e tudo se apaga. rocha atormentada. terá de viver ?
tem. ainda tem. o tempo é assim. dá tempos à vida que
ninguém entende.
e porque que é que a Vida, coisa de outros Mundos
se há-de entender?!
26/04/2009
25/04/2009
Renovação
ensina o cravo aos teus filhos
como quem conta um segredo
como quem lhes dá o leite
como quem lhes sara o medo
de ser de rir de viver!
ensina o cravo aos teus filhos
faz Portugal renascer
desta sombra deste baço
desta memória cansada
de uma Vitória que foi
grande livre e encarnada
toda cor e felicidade
toda Paz e Alegria
Fé no Futuro
e vergonha de um passado a não esquecer
para que não se repita
não vá Portugal morrer.
11/04/2009
09/04/2009
30/03/2009
o último sorriso

em meio ao deserto da vida de agora
quebrada. perdida. pedaço de mim
não espero. não busco os restos que tive
e me davam forma - concha de criança segurar na mão
como coisa boa para guardar de noite. baixo à almofada
a escutar o mar até vir o sono -
não me quero inteira. a inteireza dói e eu cansei de dor.
prefiro-me assim. fragmento informe. bocado de nada
que o vento e as marés tornarão areia de tanto o rolar.
depois sim. depois serei mais um grão que ninguém verá.
Cristo voltará a este deserto e eu, serei do chão que ele pisará
e quem sabe então. pela última vez, num instante breve, sorrirei
feliz!
25/03/2009
o medo e a promessa
na noite. na minha. noite lua nova. rodopio medos. emoções esquecidas no tempo de escola
sou eu? eu quem teme. quem treme de um frio que nem mesmo há? sou eu esta agora. a mesma. a de ontem?
que foi que me fiz? onde está força de desfazer muros? com o gesto exacto. verso vendaval?
ah! serão as dores... terá de ser isso. não medo da morte. essa é minha amiga e sabe que a espero
de braços estendidos. de sorriso aberto. sem mãos a tremer.
sim. as dores que tolhem e trazem o medo de que tu não saibas. de que tu não creias.
espera um pouco mais. todas as dores passam e eu corro para ti
corro para cumprir o que sem falar. olhos nos teus olhos. sei que prometi e esperas de mim
16/03/2009
21/02/2009
17/02/2009
de manhã. e à tarde?
de manhã nasce o sol e, o civilizado, promete a si mesmo beber água. porque... de manhã nasce o sol.
mas a manhã é cheia de jornais que o deprimem e... ele espera o almoço onde já não parece mal a ninguém tomar um copo ... socialmemte. é claro!
social? se mente? claro que mente. a manhã passou-a na angústia da hora do almoço. até poder dizer para dentro de si e em alta voz- agora já vale! agora eu posso. agora é social!
mas eu vivi com isto. dia e noite. onze anos. só que com um chefe que não se armava em chefe - era um chefe. como poucos. de natureza.
que faço eu ao sargento-lambe-botas que me caiu na rifa?
a esta hora?bem, a esta hora quero dormir para amanhã conseguir acordar.
boa noite.
14/02/2009
o tal "desenho" ou o prometido é devido.

— "Ó Potestade, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos." ...)
e os Portugueses venceram o (medo do) Adamastor.
*Os Lusíadas - Luiz de Camões
***-***
12/02/2009
"Bicho, meu lindo Bicho!" Não parece que foi ontem. Foi Hoje.

foto de madalena pestana dedicada a Nuno Bragança
"À descoberta de Nuno Bragança
Nem livro nem página em branco: a vida e a obra do escritor Nuno Bragança, nascido há 80 anos, continuam, ainda, demasiado desconhecidas.
(...) Nuno Bragança era um e vários, memória pessoana (...)" por Sílvia Souto Cunha em Visão - Cultura, Figura. (12 de Fev. de 2oo9 - pág 100)
A este texto, dos melhores que li, pelo que conheço do autor, e mais se aproximou (por não tentar parecer saber o que , de facto, não sabe) e, com o apoio do filho, Manuel Luís de Bragança, "o mais velho dos cinco filhos do autor", urge só uma pequena adenda: o nome dos outros filhos ou "os nossos putos" como ele, Nuno, preferia chamar-lhes: Maria de Bragança, Teresa de Bragança, Marco de Bragança, Leonor de Bragança (os dois últimos, filhos dele e da sua segunda mulher).
___*___
assim, meu Bicho, a lista está completa e, se a noite perdura, ainda ouço a tua gargalhada estridente no ar. o teu Riso. como agora. sempre que sabes porque digo o que digo.
PS. "Isto anda tudo ligado" - tu, citando Tolstoi.
e... ter nascido no dia de Darwin, Homem?
até já.
Magda
28/01/2009
porque nasci assim...

15/01/2009
corredores de frio
estendo. ao tempo. as mãos frias
estão vazios os corredores. de mim
nem ecos de passos dados. só a chuva
que perfura. hoje. a terra toda
em fúria fecundante. se ouve. açoitar o solo
a fazer vida para o futuro. a trazer luz
no verde molhado. nas pedras lavadas
no ar respirável. outra vez
mas reina o silêncio nos corredores
para que caminhar?
ficam estendidas. no tempo. as mãos vazias
frias
na espera de nada. no longe de ti
05/01/2009
senhor "Deus dos Exércitos"
filhos de Abraão _ Isaque e Ismael
"Pesquisadores fizeram um estudo de DNA e comprovaram que judeus e árabes são parentes próximos, como diz a Bíblia. A descoberta significa que todos são originários de uma mesma comunidade ancestral, que viveu no Oriente Médio há 4.000 anos. Isso significa que a genética comprovou o parentesco bem próximo, maior que o existente entre judeus e a maioria das outras populações.
Segundo eles, quatro milênios representam apenas 200 gerações. Esse tempo seria muito curto para mudanças genéticas significativas. Os cientistas envolvidos no estudo também perceberam que, apesar da longa diáspora, as populações judaicas mantiveram intacta a identidade biológica. Eles afirmam que o resultado não apenas está de acordo com a tradição bíblica, como refutam a tese de que as comunidades judaicas atuais consistem principalmente de descendentes de convertidos de outras crenças."
Pois. Há lá pior que guerras fraticidas?
Há. Há simplesmente a Guerra - uma intenção eterna do homem. sobre a Terra.