12/03/2008

param as águas correntes ?


foto de madalena pestana

este blog nasceu como outros tantos para destruir a inveja e tentar vencer a indiferença.
são duas terríveis características humanas. da modernidade. sobretudo.

a inveja não sei se destruiu. deixei de a ver. ceguei para ela. falei dela e dentro de mim... matei-a. se a nomeei. não merecia.

a indiferença não a venceu. essa é menos corrosiva na aparência mas mais cobarde. foge até do seu nome. prefere usar o de vítima.

o indiferente vitimiza-se. e ai de quem não se condoa.

não tenho tempo ou paciência para mais. que vivam o que são e como são. e eu com isso?

afinal não sou deus ou diabo para querer ou poder mudar a alma humana.

a indiferença é uma parede baça que se há-de magoar dia a dia mais nas arestas de si mesma. não sabe isso. é preciso viver para saber. e viver muito. e sofrer muito. de muitas dores. próprias e alheias.

a indiferença desperta depois da morte. de outros. e é tarde. tarde até para continuar indiferente. mas...

Fall_River by David Halpern


... mas os rios correm e não param ao gosto da indiferença. essa, com a inveja irão parar ao esgoto da humanidade e tal como os rios que nos correm serão, em breve, nada na imensidão do mar.

afinal é de água que sempre falo aqui. esgotos e rios têm o mesmo fim. o mar.

o mar.

o Mar!

07/03/2008

peso de pedra

image by Thomas Hawk


peso de pedra ter a minha idade

idade quase pedra. de nascença.

aos ombros vidas de tantos passados

nos olhos palcos de tantos actores

na cabeça mil histórias por contar

a netos de outros colos

na alma um desapego à vida

um ar de adeus. desejo de partida



peso de pedra não temer a verdade

de estar sozinha mesmo em frente ao fim

seja definitivo ou eternidade

escondida ao nosso olhar de nada ver.


02/03/2008

engraçado, olha o fim.

Image by © Burstein Collection CORBIS


vivemos o fim.

tudo estava previsto e fizemos tudo para o confirmar
com uma apatetada inconsciência de criança
com um sorriso sem causa nos dentes bem cuidados
nas gengivas escovadas no branqueado da boca como da vida

e o fim chegou.

suavemente como o tropel dos cavalos apocalípticos
e não queremos vê-lo
e não nos abraçamos no amor da despedida
e acenamos as mãos tratadas uns aos outros sem os ver´
e compramos a última moda de roupa para usar no fim
e sorrimos
sorrimos ao fim
que pode até ser urgente, inevitável, necessário
mas graça, isso não tem.