30/06/2008

qué viva España!

foto de madalena pestana

aquelas pernas que estavam esparramadas na mesa ao lado eram alemãs. eu almoçava. o almoço tinha um bom aroma a mar.

as pernas tiraram os ténis. alemães. deixou de cheirar a mar. as pernas bebiam cerveja alemã. os pés já tinham palmilhado mais de cinquenta anos de alemã arrogância.

quem era eu. na minha terra. para querer almoçar sem o odor a bebedeira eterna. alemã. que desertava dos pés daquelas pernas? era só portuguesa. tinha perdido. pois.

imaginei que faria o empregado se me desse para tirar os sapatos ao lado a prato alheio.

fotografei. nem viu. os pés já tinham o olhar turvo das bebidas atrás umas das outras.

assim que pude dei com os pés no alemão dos pés e na Alemanha toda. confesso. conheci vários. não gostei de nenhum.

hoje vi, a imaginação dos espanhóis, a arte, a inteligência, darem um pontapé em todos aqueles corpos arianos. musculados. sobretudo no cérebro. (é bom não esquecer que os que pensavam eram do tempo nazi e foram exportados para o resto do mundo...)

que me perdoem os alemães que pensam. sei que há.

mas aquele pontapé espanhol valeu bem o meu almoço meio estragado pelo cheiro a pé alemão. bêbedo arrogante e sem educação.


qué viva España.

27/06/2008

asas ao alto

image by Luong Quoc Dinh


hora de voo.


onde andou o voar nos dias que seguiram a noção de morte?


asas paradas


arrastando o chão dos caminhos de pó


mas hoje o corpo reabriu a chama. sacudiu as penas

voa para ti

no espaço. encontramo-nos fácil


tu tens os teus e eu os meus

feitiços

espécie de milagres para humanos

temos encontro no lugar de sempre


e mergulhando um-noutro

a maré encherá. transbordará os rios

fecundará o mundo que fizermos



dentro de mim

de ti

image by frantisek drtikol


26/06/2008

Mar limpo. até de mim

photo by Valery

hoje

hoje mergulho de alegria. alívio. pasmo.

tudo era tão simples. e eu sem ver

as janelas estavam escancaradas. e eu sufocava


a Vida estava ali. ao lado. e eu não vivia


parada no tempo em que ao parir. perdi.

não foi bem ao parir. não. essa beleza não a dou a ninguém!

nem ao fazer das crias gente capaz e útil


não . não foi aí. não foi.


foi só ao distrair-me. por cansaço.

por não ver a serpente. sequiosa de ovos, ou louca de

poder sugar-lhes NOME e SANGUE.

quase prontos para a Vida que eles estavam....

a tal. a dura. a de todos os dias. meios-dias e noites.


ah! mas hoje mergulho em água limpa a sal

que se dane o passado!

quem não cresceu vai bem a tempo ainda


eu vou com as ondas. até ao fundo. até ao meu sangue


lá em cima sujo. caluniado

e aqui reciclado. para sempre.

pelo Mar.


24/06/2008

por dentro dos rios. a alma

image by jensenl


hoje os meus rios. os meus. não os da Terra. outra mãe.

incendiaram e ensobraram o mar


nem o por do sol lhe dava aquela cor que vi antes de virar costas

e subir. alma acima. até ao impossível de mim


hoje todos os meus escritos se apagaram. pelo fogo

e correram nas águas. feitos pó. como eu quero correr


ao chegarem ao mar. ardiam. da minha alma em chama

foi o início da morte sem um rasto. sem um resto. sem um gesto


sem deixar nada que possa fazer com que me matem

com que voltem a matar-me. uma e outra vez.


bendita hora.

e só o mar a sabe. ele. os deuses. e eu.


mas eu?

aonde estou?

importa? - claro que não. desci ao mar. por dentro dos meus rios.

22/06/2008

sangrar ou sons de par.tir

image by Robert & Shana Parkeharrison

enxertar
sangrar palavras

ou vidas?

na paisagem fria
há gentes. vazias


nascidas do rictual
de reproduzir

a árvore era una

agora é ramo
morto. hemorragia

coisas de mulher

ou árvore ferida


by dr3wie


seguem os caminhos
que há por sobre a água.

o sangue na terra

árvore repartida

partida

três sons


ár vo re


21/06/2008

nem penas.

image by rantisek drtikol


há tanto tempo esperas. sem repouso


serão anos. milénios? não sei bem


sei dos teus braços abertos para mim


desde que o universo nos fez separar



photo by Bob T


e eu não te segui. que nem podia. pensava não poder.


prendiam-me as raízes que afinal não tinha


os loucos e as aves não deixam na terra mais que penas


próprias. o mais do tempo é deles. para voar.


perdoa meu amor. ainda não sabia. é tarde já?


não deixes cair agora os braços. não agora


que sei. e nem as penas solto. para ninguém lembrar




18/06/2008

desenho livre

at hometown.aol

passo pela vida como quem toca as teclas de um piano
ora de leve. ora com a intensidade que a pauta me impõe

mas sou eu quem escreve a sinfonia

sou autora da música que toco para todos os ouvidos
ou para toda a surdez. tanto me faz

os rios correm para o mar. eu para a morte
mas os rios e eu circulamos encostas

fazemos desenhos na terra

desenhamos livre. despenhamo-nos. corremos
manso. pelas planícies sonhadas e as reais


nada me trava o curso a não ser o meu fim
nada trava os meus rios a não ser a fusão

desejada

com a imensidão cheia de segredos. meus. deles. do mar
do nosso amado mar


que também não dá contas a ninguém
enfurece-se e inunda. ou dá paz ao olhar. numa praia. de inverno


à minha hora. a caminho da noite. a caminho do sonho. sem dormir

16/06/2008

os rios dos rostos

image by Karel Sobota

a chuva de quase verão lavou os caminhos sujos. há limpidez de novo. há primavera na transparência com que olho e vejo a vida. a minha vida. o tal quase final dela.

as nuvens do céu reflectidas no chão dão-me uma sensação de intemporalidade e infinito. que bom! para finita basto eu.

as nuvens incomodam-me tão pouco como as rugas do rosto. dão mais brilho ao céu quando regressa o sol. tal como as rugas são sulcos. sulcos de rios que correram por eles. rios de lágrimas. de prazer. de coragem. de esperança. rios que fizeram lagos em muitas outras vidas.

rugas-rios que dão brilho novo às estradas ainda por andar.

13/06/2008

ele há miséria e - a miséria

photo by Peace Correspondent

um estranho agrediu-me. um puro estranho.
espantou-me aquele ódio de marginal. mais que a dor na cabeça. da pancada. ainda me espanto. eu. coisas de quem passou por outros tempos e não está para se habituar a estes.

calcei os ténis e com uma amiga, fomos até à montanha. lavar a cabeça de gente. nem um cantil levámos. sabíamos que no topo havia uma nascente. de água pouca mas límpida e corrente.

pelo caminho quase não falámos. a minha amiga mais por temperamento. eu por me martelar no cérebro a palavra miséria.

os que têm fome. da real . da física. dirão: - na miséria vivo eu.
estão enganados. vivem com a falta do essencial para sobreviver mas a dignidade permanece. ainda que em justa revolta e inacreditável sofrimento.

mas miserável é quem não sabe o seu lugar na vida. quem perdeu os princípios e se orgulha disso. quem pensa ter todos os direitos. porque sim. quem ostenta o que tem na frente de quem não o poderá ter. como quem acena com um pão a um esfomeado e lhe dá uma gargalhada em vez do pão. ou caso dê a sandes que levava para o caminho curto, corre a alardear - eu dei! eu dei! olhem como eu sou bom. batam-me palmas. sou rei.

e é. rei desta selva.
leão preguiçoso que só caça para si e depois ruge. como se isso fosse um feito assinalável.

rei da miséria. é.

chegadas à fonte saciámos a sede. de água e esperança.

- esquece isso. já não muda. pega numa borracha e apaga-o. ou então segura numa pedra. pensa nele. passa a tua energia de frustração e raiva para a pedra e atira-a à água. ficará no fundo. depois viramos costas.

deixámos a miséria para trás. essa miséria.


fiz o que a minha amiga sugeriu. fiquei tão leve!

há caminhos de areia para ir buscar água pela manhã. não volto aos caminhos de pedra.

há tanta gente com sede e eu conheço muitos rios e fontes e nascentes. tenho de os ensinar.

descemos a correr e, a sorrir!

photo by kryyslee


12/06/2008

escuto os amigos. já só escuto os amigos .


sejam virtuais, ou conhecidos de uma vida quase. por isso voltei.

quem me conhece sabe que entenderia Van Gogh, como me entendo a mim e a quase todos os loucos com quem cruzei e me encheram a vida , bem mais e melhor que muitos que se julgam sãos.

agora, aceito a cadeira do mestre e sento-me.

é que mudar de um template antigo para o chamado fácil, cansou-me os olhos.

hoje fico por aqui.

beijos a todos


(está tudo de férias mas... os beijos não se estragam como o leite por descarregar. né?)


:)