21/05/2009

passo a passo

Desert_by_HIIA

queda em maciez de areia fina. que o vento logo empurra para os olhos e os pulmões. o ar rareia.

ninguém em volta. só vozes a esquecer. minutos a esquecer.

as costas doem. terá sido da queda em mar-deserto?


voltar ao barco por ora é impensável.

tem nos ouvidos a voz de morto-vivo do contra-mestre no convés.

- acorda. olha. faz. depressa. temos pressa em ver terra.

ele. que não veria terra nem por baixo dos pés!...

- dêem-lhe a garrafa de rum talvez assim se cale!

pensava o marinheiro em silêncio. em silêncio o gritou vezes sem conta até ser vencido. a vertigem. depois caiu ao mar. ao mar. deserto.

desert_horned_lizards_by_Blepharopsis


onde o oásis para deitar a cabeça a escutar água doce. corrente? e descansar.

será a etapa de hoje. o de hoje passo a dar.

em nenhum outro espaço se atreve a adormecer. por todo o lado há répteis à espera do fim. para atacar ou ocupar lugar até no crânio, do que vêem como carcaça velha.

os répteis são animais de sangue frio - pensa. - há que aquecê-los.

e começa a cantar:

*FIFTEEN MEN ON THE DEAD MAN'S CHEST. YO-HO-HO AND A BOTTLE OF RUM!


* in Ode Marítima - por Álvaro de Campos

10 comentários:

Cristina Fernandes disse...

Muito bonito este seu espaço.
Parabéns!
Cristina Fernandes

Unknown disse...

Há que tentar aquecer o coração dos que se sentem sós, dos que rastejam na solidão.
Um abraço, o livro de que falo no meu blog é para mim muito interessante.
um abraço
tulipa

Teresa Durães disse...

os predadores... sempre à espera da presa...

beijos mana

Gabriela Rocha Martins disse...

passo a passo se tece o compasso dum espaço a não perder

como sempre



.
um beijo

so lonely disse...

uma garrafa de rum...
será talvez o que eu preciso
ou,
não vá a quente bebida gelar

na frieza de mim...

Anónimo disse...

gostei muito de ler, madalena, e sobretudo da primeira fotografia. vou levá-la comigo, com um beijo. bom fim de semana :)

simplesmenteeu disse...

"onde o oásis..."?
enterram-se os passos. e, a boca, já não consegue engolir a sede.
esgotaram-se os rios e as nascentes.
até o sentido da espera e da procura...
talvez o rum... cale a impaciencia que teima em ficar...
talvez... chegue a amanhã ou ao dia seguinte.

(um jeito de ser...)

um beijo

Madalena disse...

De deserto sei um pouco.

De rum até nem gosto e dou de vontade a parte que me couber na vida ao "contra-mestre". Mas... isso são ainda contas de um rosário do "marinheiro" que ainda sou.

Por quanto tempo? só o de me libertar da náusea acumulada.

A seguir eu, já com os meus rios, prometo voltar.

Obrigada pelas várias leituras e sobretudo pela V. presença.

BFS.

Bjs com carinho. :)

poetaeusou . . . disse...

*
cheguei a tempo
de margear o Rio ?
,
conchinhas,
de cuba-livre
com muita melaço - Rum -
,
*

Madalena disse...

Chegas sempre a tempo, Poeta.

Se eu não te visitar a Non há-de fazê-lo por mim.

Beijinho. :)