25/07/2010

...pois é

image by Sergei Sogokon

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- quê? é assim que ele fala? isso é conversa de gente?!

- não. é treta sem conversa e se é de gente não sei. não lhe quero ver os dentes para saber se ele é vampiro.

- para. é aqui que eu respiro fundo de tanto absurdo. pensava que gente assim ou já tinha mais de 80 ou tinha deixado o mundo com uma pedra ao pescoço.

- pois é. mas este sobrou. pelo menos por agora. fiz uma pausa na Vida. não sei quando chega a Hora de lhe mostrar de uma vez de que é feita uma Mulher.

- olha com quem se meteu o raio do cromo. coitado!
mas ele é chefe de quê?

- de mim, pelo que entendi e bem pouco mais do que isso...

de manhã vem direitinho. controlado. atormentado. sem vontade de um sorriso. não que se note a diferença. aquilo, é cara sem rosto.

- e de tarde, é diferente? fica mais homem, mais gente?

- não. de tarde é pacote inchado, coisa de chefe à Bordalo. apetece até furá-lo e ouvir o ar a sair.
pior?... era o cheiro a mosto que eu teria de sentir.

- ah. então está tudo explicado. e... dá-lhe uma de sargento?

- sim, com divisas de cabo. e eu vou contando até 100 para ver se o aguento.
ele são bocas foleiras e queixinhas e rasteiras. enfim. coisas do antigamente que só vejo repetir em pessoas mal formadas a quem deram, por engano quero crer e por tempo limitado, uma réstea de poder.

- ele será afilhado?

- que eu saiba não. tu conheces-me. não sou dada a essas tricas.
mas verá televisão e logo logo a seguir ensaia ao espelho. para imitar. um conhecido e de "má fama" engenheiro. e assim se julga patrão.

- pois é. parece que está na moda essa de ser prepotente. mas os tempos vão mudar. mudaram já e em tempos muito piores. onde os dessa laia eram bonecos de outros senhores.

- por mim podes apostar. nem que seja a única coisa a fazer em estado activo.

- isso faz as pedras rir!

- a mim não. e nem sorrir. só cerro. com força. a mão.








Rafael Bordalo Pinheiro


15 comentários:

Madalena disse...

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

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E... disse.

Irene Ermida disse...

obrigada pela visita e pela oportunidade de descobrir este blog! virei cá sempre que puder para ler com mais atenção.

Teresa Durães disse...

os tempos irão mudar? e qual foi a última vez que isso aconteceu?

(tenho vindo cá espreitar mas não tenho comentado. vá-se lá saber porquê)

beijos mana

aDesenhar disse...

"...pois é"

Já fui figurante num filme com um enredo semelhante a este.
É necessária uma dose extra de paciência...
e com o passar do tempo, estes vampiros ou são vítimas do próprio veneno ou são devorados pelo sistema que os promoveu.
É tempo de dizer basta a estes emplastros prepotentes.

Abraço Madalena

poetaeusou . . . disse...

*
amiga,
,
o meu comentário
,
Eu vivo nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.
Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.
Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram com as coisas.
Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.
Também a noite é escura.
,
in-agostinho neto,
,
brisas serenas, deixo,
,

pin gente disse...

pois é! e agora?
já basta realmente...

boa! muito boa!
beijo

adouro-te disse...

... ou como se mata à pedrada!Palavra, Madalena, tanta pedrada certeira, tanta pontaria!
Disseste-me ou sonhei que estás com dificuldade em ver?
Não parece... não parece!
Beijos.

Lmatta disse...

gostei do teu texto
beijos

Mateso disse...

Mudou?! era para mudar, mas ...algo imprevisto aconteceu e como a res natura é assim, renasceram emplastros fartos de nada e vazios de muito. Lá ser emplastro é obra do demo, porém emplastrar o povinho?Ora Toma Lá ( disse, o Zé Povinho!)
Bj.

Era uma vez um Girassol disse...

Querida Madalena, tu sabes que já passei por todas estas coisas, que deixaram marcas profundas...
Tão profundas que, embora eu tenha reagido com coragem a saúde foi ficando afectada, as defesas foram diminuindo. Nem nos apercebemos, mas há uma parte de nós que se apaga e que muito dificilmente se consegue acender de novo...
Adorei este texto, adorei!
Haverá esperança de mudar??????
Quem dera correr com esta gente balofa, vazia, sem valores morais.
Beijinhos para ti e as tuas melhoras.

tchi disse...

É mesmo... Madalena.

Beijinhos

Madalena disse...

Amigos,( sobre todos os que vieram,) eu sei que sabem do que escrevo e sinto.

Obrigada pela presença que me sabe a quente-quase-família.

Bom fim de semana. Beijos para todas/os. :)

Madalena

Oliver Pickwick disse...

A História é cíclica. Haverá o tempo em que as verdadeiras gentes que luta e que sofre, prevalecerá; e a corja que ora domina, mergulhará com uma pedra atada ao pescoço nas profundezas do Letes. Nem que seja por via do célebre 666.
Um beijo!

Madalena disse...

Esperemos que sim, Oliver. Esperemos.

Beijo Amigo.

Boa semana. :)

Gabriela Rocha Martins disse...

podem os tempos mudar ,mas ,por favor ,quemadre ,não mudes

deixa verter as caudais palavras ,sem pressa

soberbo!!!!


.
um beijo