16/07/2008

há rios que salvam

foto madalena pestana


a casa intemporal que usei na vida

cobriu-a o verdete do tempo e as trepadeiras sugadoras de sangue verdadeiro

foram-se o tecto e as paredes. fiquei a céu aberto.

de início não me pareceu mau. ainda havia ar

o indispensável ar que revigora o cérebro de quem pensa.

mas pensar é um acto subversivo. mais agora. outra vez.

vieram as pessoas-peste. apocalípticas. envenenaram até essa riqueza que sobrara.

não me restou mais nada. só a memória de sonhos alimentava ainda quem eu fora.



image by James Newman


sobrevivência.

escrevo a cor das paredes com os olhos da imaginação. visto-as a mar espuma e areia quente. durmo.

ao dormir poupa-se muito ar. escapo assim ao envenenamento e ao inverno frio.



image by owlpen

acordo.

abriram uma janela na casa que inventei. entra por lá o sol que eu já nem via. tinha cegado (cegado por vontade de não querer ver mais ?) e a luz reaquece a minha alma. as plantas reverdecem.

agora há sombras apenas onde o sol as quiser.


a casa tem volume. existe. realmente.


aprendo uma nova realidade: a minha casa é o espaço aonde, em paz com o amor e a verdade, me deixarem viver.


segue o curso sinuoso do meu rio.

corro. sei que há rios que me alargam o caudal e é urgente encontrar.


10 comentários:

Gabriela Rocha Martins disse...

é imenso o caudal do teu rio onde as palavras//vida se estendem pelas margens - alagando.as em espanto



.
um beijo ,quemadre

José Pires F. disse...

Sim, sim... há rios que nos alargam o caudal.

E com esta metáfora, acabas em beleza este belíssimo texto.

Excelente! Coisa que já não me admira.

Abraço.

della-porther disse...

foi impressionante lêr - este texto - ao som de kitaro.

beijinhos
della

poetaeusou . . . disse...

*
non
,
impressionante,
tremi,
mas,
recuperei rápidamente,
porque eu sei ...
que tu sabes . . .
das nascentes dos rios.
os maus,
os bons,
os de margens estreitas
e o que alarga o seu candal,
,
tu sabes qual é,
melhor que ninguem,
,
conchinhas,
em rios lavadas,
,
*

Madalena disse...

Gabriela, PiresF, Della, Poeta, obrigada.

Cá vou contando os dias, com ansiedade, para voltar a ver até para "lá das sombras que o sol quer". Quando vocês voltarem de férias espero ter boas notícias para dar (para vocês sei que são boas...)

Bjs. :)

Teresa Durães disse...

de novo a gostar do que escreves. já tinha saudades deste canto. só hoje li a mensagem do outro blog e cheguei aqui

beijos da mana

Madalena disse...

Olá mana, já sentia a tua falta. Vez em quando passo a ler-te. Comento muito pouca gente para poupar a vista. Mas isto está quase a mudar. Beijos. :)

aya disse...

Belas palavras!!

Madalena disse...

Obrigada, Aya. :)

Isabel Victor disse...

"... há rios que me alargam o caudal."


Retive.

Belíssima imagem ...


iv*


(grata pela visita)