26/12/2008

entre perú e sonhos

Tamera Bremer


terminou. cansaço é o que sinto. indizível.

dois dias a sorrir para esperança alheia. repartir alegria armazenada para a ocasião.

dois dias tão infindáveis quanto inevitáveis. mais os anteriores dias a fazer cansar destes, por antecipação.

Natal. não é o teu nascimento, Jesus de Nazaré, o que não me apetece celebrar. sabes que não. é todo o circo que se criou em volta.

saí à rua por uns minutos. os passeios estão pejados de lixo. despojos de banquetes absurdos a apodrecer na calçada. ostentação. até nas sobras.

olho os rostos que se cruzam comigo. os do costume. nenhum olhar tem mais brilho que ontem. nenhuma revolta ou angústia serenou por ter sido Natal. só as contas dos que não são ricos vão ser mais difíceis de gerir ao longo de Janeiro.

aonde foi cair o Amor que pregaste?

talvez numa travessa de porcelana entre bacalhau, perú, sonhos e outras tantas coisas comestíveis.

come-se o Amor que não se sabe dar.


cansei. hoje já sem visitas nem telefonemas posso voltar a ser quem sempre sou - uma vulgar maria madalena que só deseja Paz.

Natal de 1980

7 comentários:

claras manhãs disse...

Olá Madalena

vou-te mandar um mail, que podes mandar para o lixo, como é evidente.

beijinho

bettips disse...

Se o meu é bendito...o que sentes aqui tão explicadinho, sinto eu: voltar ao anonimato sem sorriso postiço, entre dentes cerrados.
Quero lá saber do "mundo"! Voltar a nada de mim como eu. Um beijo verdadeiro e de ternura, Madalena!

della-porther disse...

Madalena, amiga querida.

De trás pra frente fiz a leitura ... tua...que andava ... eu ...por fazer. Aproveito bem o feriado, pra mim essa data não passa disso, um mero dia de folga.Nele não faço reflexões as minhas são, tais como as tuas, todos os dias do ano.
Daí entender teu texto - passados 28 anos, boa parte dos seres continuam iguais: insistem nos mesmos equívocos.
Um "ensaio da cegueira" que se perpetua.
Assisto perplexa também, daqui, há muito os "despojos do banquete".

Alguns pensam como eu e você. Não praticam e somos os "esquisitos", ainda bem. O preço por essa não prática é grande, mas sabes de uma coisa? Pago. Prefiro assim. Gosto de ser "anormal".Me deixa , e por certo a nós - os esquisitos - muito mais leve(s).
Isso o sabes bem.

Um agradável fim de semana.
um beijo com carinho
sua amizade é um verdadeiro presente...de todos os dias.

Emmy Della-Porther

José Pires F. disse...

E Bem-hajas também por isso.

Abraço.

Madalena disse...

Obrigada. Bom tê-los por perto e sem ser em silêncio. :)

Bjs

maria josé quintela disse...

infelizmente tão verdadeiro e actual.



um abraço.

Gabriela Rocha Martins disse...

só para te deixar
o que neste momento me apetece



UM BEIJO