hoje gravo o que escrevo como se fosse o último dia a respirar.
hoje vou-vos contar:
- vivi por oito anos beira à morte num abandono de ninguém explicar
replecto de silêncio conveniente. o silêncio a esperar de quem é civilizado
e louco ao mesmo tempo - vejam lá...
silenciei.
pelos filhos. pela memória do homem que lhes deu o nome e por mim.
(por mim? mentira e, eu não sei mentir!)
louca? sim. não mais que muita gente sou e medicada e tudo, por isso, controlada.
mas hoje vou deixar de tomar os comprimidos (a pílula prateada. ahaha!)
hoje prometo aqui não voltar a pensar em suicídio só para ficar calada.
que se dane quem para aí me atirou (e foram vários!).
um louco não é parvo, desenganem-se. um louco só olha, muitas vezes, frontalmente, o que os de mais tentam olhar de lado por medo - o branco-medo da cegueira.

hoje, agarrando com força um pedaço da terra que te acolheu, meu Homem, e me acolherá, juro:
este ano, poderá ser o último. poderei ir viver baixo a uma ponte pelo que disser ou o que fizer, mas ninguém, nunca mais me calará!
voltarei a ser a mulher que conheceste e amaste - de sempre a sempre - lembras?
então assim será!
(escrito a pensar apenas, ou quase, em Nuno de Bragança)