31/12/2008
29/12/2008
27/12/2008
egolessness?

o que já não sou é que me fere
_______
um tempo. um saber. uma resposta
_______para tudo
o que me foge
mesmo que presa a ti
_______minha garra de amante
sei que parto
com a velocidade com que o sol
_______se foi
do meu rosto e da terra. hoje
*
nem as crianças me dizem
_______segredos maravilha
que me colem ao ainda por vir
_______
só tu podias devolver-me
a máscara de vida_______que uso
colada à face_______quando estás
só tu podias. podes._______Amigo
_______quererás?
26/12/2008
entre perú e sonhos

terminou. cansaço é o que sinto. indizível.
dois dias a sorrir para esperança alheia. repartir alegria armazenada para a ocasião.
dois dias tão infindáveis quanto inevitáveis. mais os anteriores dias a fazer cansar destes, por antecipação.
Natal. não é o teu nascimento, Jesus de Nazaré, o que não me apetece celebrar. sabes que não. é todo o circo que se criou em volta.
saí à rua por uns minutos. os passeios estão pejados de lixo. despojos de banquetes absurdos a apodrecer na calçada. ostentação. até nas sobras.
olho os rostos que se cruzam comigo. os do costume. nenhum olhar tem mais brilho que ontem. nenhuma revolta ou angústia serenou por ter sido Natal. só as contas dos que não são ricos vão ser mais difíceis de gerir ao longo de Janeiro.
aonde foi cair o Amor que pregaste?
talvez numa travessa de porcelana entre bacalhau, perú, sonhos e outras tantas coisas comestíveis.
come-se o Amor que não se sabe dar.
cansei. hoje já sem visitas nem telefonemas posso voltar a ser quem sempre sou - uma vulgar maria madalena que só deseja Paz.
Natal de 1980
25/12/2008
23/12/2008
Bom Natal, Meu Mar!
_______te
carcorreei silêncios
fui ninfa de encarnados
e negros fumos nos cabelos
_______ só
dei mágicas braçadas _______ em espírito
na tua direcção _______ não te alcancei

chego tarde ao viver _______ coisa de sempre
mas havia fogo no mar
se eu nadasse mais. um pouco mais
_______ até cair na praia
uma faúlha viva-solta chegaria até mim
_______ se.
16/12/2008
hoje. rio solto.

depois da queda livre que hoje vivo vou precisar ecrever. seja isso o que for.
passe ou não de um juntar letras a ____ sentir.
12/12/2008
tu vibração de ar

image by timeismonye12 on flickr
mergulho em sombra
fumo um cigarro
expiro o nevoeiro
envolvo nele o rio
nada existe onde estou
nem céu nem sol
nada
o nada
o nada eu
surge um gato do escuro
brilha. brilha
olhou-me? não sei bem

sei que uma chama
me atinge a liquidez gelada
fervo
mistura-se o vapor da fervura
ao nevoeiro. acresce-o
eu
cego ou quase
depois volto a olhar
do gato
só um miado doce vibra o ar
a garantir-me que ele esteve ali
10/12/2008
08/12/2008
vestidos a verde
já é outro o sentir
mostro as rugas à terra _______ olhos nos olhos
confiança de filha na mãe única. de braços sempre abertos
de colo sempre ali
é uma espera longa. a de partir. e eu já não sei ficar
nada me prende
penso - ainda amo. e entristeço. de nada já isso me irá servir
cubro-me a verde _______ erva que o inverno permite sobre a lama
sem cantos de ave. um silêncio nocturno
e faço amor sonhando. como tantos
o outro corpo? nunca o encontrarei pele contra pele
talvez assim _______ na Terra. todo a verde coberto
talvez assim _______ num dia por haver
03/12/2008
coisas do Frio
a linha recta a apontar infinitos - a distância
esfriou-me o sentir. os afectos congelaram. semelhança de morte
tudo se assemelha quando o inverno vem. as cores. os aromas
as gentes. os gestos. as vestes. as casas vazias ou pejadas
quase sempre geladas. em verdade. de verdades quentes
tu. que me não faltavas. congelaste a distância
do sonho congelado por ti as cataratas líquidas. salgadas
que deveriam correr directamente dos meus olhos para o mar
congelaram
brancas e inúteis porque não servirão a qualquer
primavera por chegar
02/12/2008
"bife da vazia"
já corre livremente a água pelas encostas.
os animais saem dos abrigos ao primeiro raio de sol. o pão não vem com a chuva. cresce dela.
também é essa a hora de predar. os mais fortes. ou não? os mais astutos. movem-se sorrateiros na esperança de fragilidades outras ou dos outros. são os carníveros. grandes senhores da vida ensanguentada de carne tenra. seja o bife da vazia mal passado ou a ave em voo titubeante que lhes caiu nas garras. num golpe de asa a nunca terminar.
a época da chuva é no entanto boa. lava. lava a mente de se saber tudo isto e disto nos atormentar o sono e embaciar o olhar.
há quem lhes escape. ao abrigo dela. há quem saiba escorregar devagarinho pelas ladeiras de lama ou neve até se afastar. de vez. das enormes bocarras. sempre abertas. prontas a devorar.
só não há água que lave os cantos ensanguentados da boca dos carníveros. o sangue congelou ao escorregar dos beiços salivantes de gula. e mancha de sangue sempre foi uma nódoa difícil de tirar.