
em meio ao deserto da vida de agora
quebrada. perdida. pedaço de mim
não espero. não busco os restos que tive
e me davam forma - concha de criança segurar na mão
como coisa boa para guardar de noite. baixo à almofada
a escutar o mar até vir o sono -
não me quero inteira. a inteireza dói e eu cansei de dor.
prefiro-me assim. fragmento informe. bocado de nada
que o vento e as marés tornarão areia de tanto o rolar.
depois sim. depois serei mais um grão que ninguém verá.
Cristo voltará a este deserto e eu, serei do chão que ele pisará
e quem sabe então. pela última vez, num instante breve, sorrirei
feliz!