19/11/2007

chuva no deserto

thirsty by Dario Menasce


a chuva chega a aliviar o caudal seco do rio dos meus nervos

há uma solidão de pedra nas gentes em volta. o cinzento traz isso

a quem ama a cidade e o cimento-cerco onde me perco como num deserto

respiro lento. bebo a humidade como as árvores empoeiradas de obras

gordurosas de óleos sufocadas de gases poluentes. respiro.


- lembro-te

pouco nos importava que chovesse e desabasse o mundo sobre nós

tanto se nos dava que fosse o sol escaldante nos areais sem norte

criávamos oásis ou abrigos com a imaginação

dadas que estivessem as mãos nada nos impedia de seguir rastos de água


- lembro-te

meu rio de sangue-vida. meu bordão de viagem. meu senhor e meu pajem

lembro-te e volto ao nosso rio sem rumo ou sequer margem

entro nele e mergulho sem saber quanto futuro ainda há por vir

só sei que estarás comigo até ao fim mais do que eu pude estar

morrerei a sentir e a amar. farás comigo a última viagem


- lembro-nos e sorrio


no corredor alguém diz em voz alta que faz frio – eu não o sinto...

viverei ainda no mesmo planeta ou persigo-te já na cauda de um cometa?

21 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
lembro-te . . .
*
xi
*

A.Tapadinhas disse...

Lembranças de um rio sem rumo e sem margens é o que eu levarei quando fizer a minha viagem na cauda de um cometa...
Madalena, que mensagens inspiradoras...

bettips disse...

Sem frio. Poalha dourada, apanhada com as mãos. Aquece. Persegue. Beijos

Teresa Durães disse...

sory, sem concentração para ler tanto.

desculpa a ausência,mana, mas é assim em todo o lado

beijos

Anónimo disse...

Até tenho dificuldade em comentar este texto, tal foi a quantidade de sensações que me despertou, excelente. E tudo começou com a chuva... Beijos.

Madalena disse...

Muito obrigada. Vocês estragam-me com mimos. Lol.

Bjs a todos. :)

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Madalena


___________adorei a "chuva no deserto":)


________a chuva cai neste momento__________violentamente:)))


BeijO carinhosO

Mateso disse...

A chuva -água ou antes a chuva-ser?
Beijo

della-porther disse...

Paper

vou lendo tua chuva no deserto enquanto outra chuva desaba nessa madrugada. ambas inquietam as lembranças.

bom lembrar.

a imagem é muito bonita.

bjhos

della

José Pires F. disse...

E ao contrario dos oásis imaginários, está delicioso e concluído com um final de mão cheia.

Gabriela Rocha Martins disse...

depois da vénia que se impõe

retiro.me

_________________

deixo.te

um beijo ,quemadre!

Anónimo disse...

sabe bem
sabes bem

beijo grande

CC

un dress disse...

que chova sobreTudo

que chova mesmo quando

mesmo se


...



beijO

Mustafa Şenalp disse...

ÇOK GÜZEL BİR SİTE.

Artes Plásticas - FLANKUS disse...

bem aja pelas visitas via interplaneta do Atelier. gosto do som da agua.

Neste atelier trabalham 2 pessoas (pelo menos por agora) com caminhos diferentes entre eles , cada um inteiro por ele próprio, o que é interessante aqui é a troca de ideias, por isso pelo meio da Internet, abri-mos uma vista para o exterior, assim podemos alargar ainda mais o diálogo, a comutação de fantasiar sobre a arte num simples atelier.
Kim Prisu

LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Entro aqui com prazer, leio com sofreguidão palavras e sentimentos, retiro-me feliz por mais um momento de alta poesia, mas não consigo comentar porque se incendeia o pensamento.

Mas voltarei de novo e sempre.

Beijos

lena disse...

Madalena que doce o teu escrever

a chuva caiu e não molhou, foi encantar o rio, fazê-lo sorrir

passar por aqui é um privilégio porque é sentir a beleza da tua escrita


um abraço terno e eu estou

beijinhos para ti

lena

Vladimir disse...

texto maravilhoso, intenso e denso, conjugado com uma foto muito ilustrativa...

Madalena disse...

Obrigada meus amigos. Fico contente de os ver por aqui. Vamos ver se me volta a vontade de escrever.Nesta época não estou nunca inspirada.

Bjs a todos e boa semana.

Anónimo disse...

é tão pleno de tudo este texto que me sinto quase-nada para receber as suas sensações.
Lindo!
Carla

Madalena disse...

Quase-nada, Carla? Quase-nada é viver em águas estagnadas e só o serão se nós deixarmos.

Já António Machado dizia: "Caminhante não há caminho/ faz-se o caminho ao andar"

Volte sempre e Obrigada.
Bjs