27/10/2008
24/10/2008
gargalhada
as minhas raízes estão na Terra
em cima __ à superfície __ cruzam-se. como riachos
correntes de uma fonte de sede interminável
têm que descer fundo. encontrar __ dentro à mãe __ os rios
___ quem sabe se diferentes... ___
que as hão-de saciar.
no topo __ os ramos riem
riem pela manhã
ao primeiro sopro de brisa ou raio de sol
que lhes faça rumorejar as folhas
uma ou outra ave conhece já __ de cor
esse riso de árvore antiga que sacode a poeira da dor
de ter de estar exposta. à superfície. sem defesas aparentes
mas que são as raízes senão a força que mantém uma árvore de pé?
as aves. uma ou outra. acenam-lhe com o canto
cresce o dia!
___ o mundo suporta os pés dos homens sobre ele ___
enquanto a árvore ri ___ como um abrigo acolhe ___ a quem passar
raízes atravessando o coração da Terra
até à água. a benção. a vida. a paz.
reprodução do riso
liquefeita forma do amor
22/10/2008
estas minhas premunições

Os Anjos dos modelos voluntários acompanham agora o Jaime na última e desconhecida caminhada.
Obrigada Jaime. :)21/10/2008
20/10/2008
a coroa fóssil
contemplava a jóia. a única que queria vislumbrar
a árvore. essa sim. envelheceu primeiro e a dizer-me: - vai. não vale a pena

hoje a árvore é um tronco. azul. a destacar-se de outras árvores
caídas no caminho dos rios imparáveis
onde estará a coroa que criei para ti e não quiseste usar?
não sei. nem porque perguntei. fossilizou talvez
é tempo de seguir. de voltar a nadar
fotos de madalena pestana
bom dia
se não entendeste o que quis dizer até agora. olha a minha mão
o tempo gasta-se. a memória. essa é a chave de todos os segredos
12/10/2008
segue-me no outono
piso outonos. sonoros. resmalhantes
todas as folhas de papel já escritas amarelaram. como a minha pele
enrugaram
ao sol de muitos verões quentes de vida alucinante. alucinada
alucino________ a verdade de sorver cada gota restante
vida________ a minha. única. irrepetível
gotas. as do suor de estar atento a cada som. a cada asa vibrante
do vento________ onde te encontro. te repetes
meu tronco. minha força. meu segredo
minha esperança maior que deus quando chegar o medo
"Pai. porque me abandonaste?" - disse um Homem a um deus morto
entendo. mas família só sei de chamar Mãe, à Terra
e do teu último-recente olhar. que vi. silencioso. absorto
fixo em mim. meu amor. outono da minha ressurreição
antes do pó.
fotos de Madalena Pestana
10/10/2008
Intervalo.

by Jacques Brel
Je veux voir mes frères
Et mes chiens et mes chats
Et le bord de la mer
A mon dernier repas
Je veux voir mes voisins
Et puis quelques Chinois
En guise de cousins
Et je veux qu'on y boive
En plus du vin de messe
De ce vin si joli
Qu'on buvait en Arbois
Je veux qu'on y dévore
Après quelques soutanes
Une poule faisane
Venue du Périgord
Puis je veux qu'on m'emmène
En haut de ma colline
Voir les arbres dormir
En refermant leurs bras
Et puis, je veux encore
Lancer des pierres au ciel
En criant : "Dieu est mort !"
Une dernière fois
A mon dernier repas
Je veux voir mon âne
Mes poules et mes oies
Mes vaches et mes femmes
A mon dernier repas
Je veux voir ces drôlesses
Dont je fus maître et roi
Ou qui furent mes maîtresses
Quand j'aurai dans la panse
De quoi noyer la Terre
Je briserai mon verre
Pour faire le silence
Et chanterai à tue-tête
A la mort qui s'avance
Les paillardes romances
Qui font peur aux nonnettes
Puis je veux qu'on m'emmène
En haut de ma colline
Voir le soir qui chemine
Lentement vers la plaine
Et là, debout encore
J'insulterai les bourgeois
Sans crainte et sans remords
Une dernière fois
Après mon dernier repas {x2}
Je veux que l'on s'en aille
Qu'on finisse ripaille
Ailleurs que sous mon toit
Après mon dernier repas
Je veux que l'on m'installe
Assis seul comme un roi
Accueillant ses vestales
Dans ma pipe, je brûlerai
Mes souvenirs d'enfance
Mes rêves inachevés
Mes restes d'espérance
Et je ne garderai
Pour habiller mon âme
Que l'idée d'un rosier
Et qu'un prénom de femme
Puis je regarderai
Le haut de ma colline
Qui danse, qui se devine
Qui finit par sombrer
Et dans l'odeur des fleurs
Qui bientôt s'éteindra
Je sais que j'aurai peur
Une dernière fois.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Brel
09/10/2008
a fábula
a animal acossado até o som do vento faz tremer
apela aos seus. de longe. mas que espécie se ocupa hoje dos que vão tombar?
outros os caçadores. outras esperas...
não esta espera porque agora vivo
presa fácil até do teu olhar que fere
pela indiferença que me atravessa inteira
defendo-me da dor. enrodilhando-me no próprio corpo
tu segues os caminhos do teu dia
o animal que sou respira. mais seguro
a mulher que em mim vive, fica só mais vazia
uivo a raiva de não saltar o muro
da minha___ assim___ inútil fantasia.
06/10/2008
pianíssimo
a espera é um nome enrolado em tempo
tempo velho como manta de avô
a espera tem a medida de quem a vive
de tanto esperar sonho e falo contigo
fiz um poema longo que ainda me entoava ao acordar
"realidade.realidade.realidade...." pianíssimo agora - "realidade.realidade...."
entremeavas compassadamente - "facto.facto.facto"
ao despertar só me sobrara isto. a vizinha abriu-me para o dia
com o som odioso dos sapatos que a fazem parecer um elefante em pontas
tu esfumaste-te. com outro rosto já
facto? mas que facto? se o que tenho não é mais que ilusão
terceira idade da memória de querer. de ser. de desejar
eram só 6.30 da manhã. cedo demais para o banho matinal
tarde demais para readormecer. ficou-me mais um poema por viver.
04/10/2008
madrugadas
foto de madalena pestana
e a esta hora. descabidamente. mais uma vez me faltas
como uma pena de ave falta ao vento. para o som inaudível
de rodopiar