26/04/2009
25/04/2009
Renovação
ensina o cravo aos teus filhos
como quem conta um segredo
como quem lhes dá o leite
como quem lhes sara o medo
de ser de rir de viver!
ensina o cravo aos teus filhos
faz Portugal renascer
desta sombra deste baço
desta memória cansada
de uma Vitória que foi
grande livre e encarnada
toda cor e felicidade
toda Paz e Alegria
Fé no Futuro
e vergonha de um passado a não esquecer
para que não se repita
não vá Portugal morrer.
24/04/2009
cavalga o Mar!

com palavras caladas. coladas à garganta. ainda assim, muito antes dessa noite, já há Gente que a Canta!

e eu penso com uma raiva já esquecida e agora renovada - ainda há pela frente tanto Mar... tanto Mar!
(24 de Abril de 1974)
21/04/2009
20/04/2009
trave sobre a mulher
de tanto ouvir falar de crise acabei por escutar.
crise é palavra feminina que cai primeiro que tudo. como uma trave. sobre a mulher.
não serve de muito discutir sobre isso. vi-a. à dita crise. atravessar-me a infância. toda. na adolescência. menos já.
ao homem cabia trabalhar mais ainda. mais que de sol-a-sol (como o meu pai). para lá do sol se por. encontrando o que fazer. rendendo. com muito esforço e imaginação.
à mulher cabia. cabe ainda. ouvir os filhos pedir-lhes por tudo (até por pão) e inventar desculpas para o "não há". mansas umas ou se mansidão é palavra distante. espantá-las com um grito e fazê-las chorar. enquanto choram por causa do grito ou do tabefe a acompanhar. esquecem o que lhes falta. criança é mesmo assim.
- mãe. posso comer pão com manteiga?
- não há manteiga. tens lá margarina que também é boa. é da vaqueiro que é quase igual.
- não é igual. mãe.
- então espera que o teu pai chegue. se ele trouxer dinheiro hoje...vou à mercearia e trago a maldita manteiga. raio da rapariga que é difícil de contentar.
neste caso a história acabou bem. o pai era um trabalhador desenfreado e conseguia não desapontar e a filha. por saber isso. tinha optado por esperar. nunca um pão com manteiga lhe soube tão bem.
obrigada mãe. pelo esforço dorido que é ter de dizer - não há - a um filho/a com fome (e ainda havia pão e a tal vaqueiro...).
por aqui e no Abril de agora. para muita gente já nem vaqueiro há. ou nasceram sem crise. né?
porque hoje mãe. a trave é mais pesada. muito.
as mulheres trabalham como os homens. não só na lida da casa e na costura para amealharem uns tostões e fazer um vestido novo à filha (lá para Maio...).
aqui e agora. depois do tal Abril de cravos todo feito. que só por dentro celebro. os gajos. os cromos dos poderes vários. enchem-se. enfardam. dançam a ronda no pinhal do Rei! *
e as mulheres? as mulheres são as primeiras a ser dispensadas (nova palavra para despedir) por - serem novas e terem de ter aulas. por estarem grávidas. por serem velhas e não se adaptarem ou...simplesmente por lhes terem fechado o posto de trabalho que os próprios abriram. e esta hein?! ou será também simples-mente porque são mulheres?
eu. na crise? - os filhos estão criados - a mim sobra passar da fila da caixa para a baixa (por causa da minha privada depressão) à fila do banco alimentar se me calhar ser DISPENSADA. eu sou Mulher...
o rio da miséria cresce. galga as margens da civilização. como no antigamente. fui eu que disse não há rios iguais?
dedicado a Maria José Batalha Pestana. minha Mãe.
* "Os Vampiros" do já ausente mas sempre Vivo, José Afonso.
13/04/2009
som do meu silêncio

mas não sei as palavras. esqueci-lhes o som. perdi-o no deserto
a ouvir o eco de si própria e nada mais. não. erro! há ainda
sons de mandar

não foi obedecer. - não aprendi isso! -
parei. no meio da cidade. apopléctica
atirei-me. eu-pedra. de encontro ao barulho. ensurdecedor!
do deserto real. de tanta gente feito!
e... calei-me. de vez!
sem cumprir o que era meu de servir à única Mãe
que nunca me falhou
falar de quê?
conto. apenas. por ser este o meu jeito.
11/04/2009
da dificuldade da Síntese e da sua Arte
foto de madalena pestana
- Série Fernando Pessoa - I
sem palavras rebuscadas um Poeta único fala de forma inteligível ( e quanto trabalho intelectual gera esta simplicidade. aparente!). depois... depois é só pensar. ele já disse.
A felicidade está fora da felicidade