29/10/2007
adiante
28/10/2007
27/10/2007
filho, eis o teu pai.
memórias que não pesam
um título. um poema, nos papéis de Maria. umas palavras antes.

não me roubem as memórias por favor. não tenho rosto já. mas sei ainda muito bem quem sou. o de onde vim e o para onde vou.
o Estudante Alsaciano. decorei de rajada depois de querer entender palavra por palavra. nunca fui papagaio. disse-o muitas vezes. com raiva. quase a sentir o pai morto na guerra. sabia o que dizia e aonde ia. não me arrastaram a lado nenhum.
havia o Lenine, na Quinta da Lomba. tinha um pai enlouquecido pela pide e eram, claro, comunistas os dois.
enquanto a rapariga das tranças fingia gostar de bordar e escutava a mãe entre panelas e feijão verde, desvendávamos matas, o Lenine e eu.
- madalena, amanhã aquilo pode ser perigoso. não para vocês. mas para mim pode e muito. o teu pai quis que soubesses ao que ias ou não irias mesmo. tens a certeza que queres ir?
- é pela liberdade. quero e vou!
enquanto eu batia a mão no peito no final do poema, com a força de quem ama a terra onde nasceu, os homens batiam palmas. poucas mulheres mas também as havia. expressões duras.
lá em baixo, na cave, o Lenine português e os outros, corriam risco de ser presos. eu sabia. não depois. na hora. naquela hora. voltámos pelo esgoto abandonado desde o Lavradio até a casa. os homens murmuravam. estava escuro e eu tinha sono já.
algum tempo depois, o meu amigo foi preso. quis ver-me, na cadeia. vim a Lisboa com a mãe dele. à capital pela primeira vez e a visitar um preso. depois disso não o veria mais. tive pena. fazia muito bem pernas de rã que apanhávamos nos charcos.
teria ido viver para a Rússia foi o que constou nas bocas das mulheres. baixinho. na mercearia única (?) do bairro.
quando fui à Rússia pedi para o ver. sabiam dele sim mas... não o encontraram...
parti de lá com a certeza de que não há ditaduras diferentes. todas são más.
pobre rapaz condenado à nascença por um nome.

Antigamente, a escola era risonha e franca.
Do velho professor as cãs, a barba branca,
Infundiam respeito, impunham simpathia,
Modelando as feições do velho, que sorria
E era como criança em meio das crianças.
Como ao pombal correndo em bando as pombas mansas,
Corriam para a escola; e nem sequer assomo
De aversão ou desgosto, ao ir para ali como
Quem vai para uma festa.
Ao começar o estudo,
Eles, sem um pesar, abandonavam tudo,
E submissos, joviais, nos bancos em fileiras,
Iam todos sentar-se em frente das carteiras,
Atenta, gravemente — uns pequeninos sábios.
Uma frase a animar aquele bando imbele,
Ia ensinando a este, ia emendando áquele,
De manso, com carinho e paternal amor.
Por fim, tudo mudou.
Agora o professor,
Um grave pedagogo, é austero e conciso;
Nunca os lábios lhe abriu a sombra d’um sorriso
E aos pequenos mudou em calabouço a escola
Pobres aves, sem dó metidas na gaiola!
Lá dentro, hoje, o francês é lingua morta e muda:
Unicamente o alemão ali se fala e estuda,
São alemães o mestre, os livros e a lição;
A Alsácia é alemã; o povo é alemão.
Como na própria pátria é triste ser proscripto!
Frequentava também a escola um rapazito
De severo perfil, enérgico, expressivo,
Pálido, magro, o olhar inteligente e vivo
— Mas de íntima tristeza aquele olhar velado
Modesto no trajar, de luto carregado...
— Pela pátria talvez!
— Doze anos só teria.
O mestre, d’uma vez, chamou-o à geografia:
— "Dize-me cá, rapaz... Que é isso? estás de luto? Quem te morreu?"
— "Meu pai, no último reduto, Em defesa da pátria!"
— "Ah! sim, bem sei, adiante...
Tu tens assim um ar de ser bom estudante.
Quais são as principais nações da Europa? Vá!"
— "As principaes nações são... a França..."
— "Hein? que é lá?... Com que então, a primeira a França!
Bom começo! De todas as nações, pateta, que eu conheço,
Aquela que mais vale, a que domina o mundo,
Nas grandes conceções e no saber profundo,
Em riqueza e esplendor, nas letras e nas artes,
Que leva o seu domínio às mais remotas partes,
A mais nobre na paz, a mais forte na guerra,
D’onde irradia a ciência a iluminar a terra,
A maior, a mais bela, a que das mais desdenha,
Fica-o sabendo tu, rapaz, é a Alemanha!"
Ele sorriu com ar desprezador e altivo,
A cabeça agitou n’um gesto negativo,
E tornou com voz firme:
— "A França é a primeira!"
O mestre, furioso, ergue-se da cadeira,
Bate o pé, e uma praga enérgica lhe escapa.
— "Sabes onde está a França? Aponta-m’a no mapa!"
O aluno ergue-se então, os olhos fulgurantes,
O rosto afogueado; e enquanto os estudantes
Olham cheios de assombro aquele destemido,
Ante o mestre, nervoso, audaz e comovido,
Timido feito herói, pigmeu tornado atleta,
Desaperta, febril, a sua blusa preta,
E batendo no peito, impávida, a criança
Exclama: — "É aqui dentro! aqui é que está a França!"
Acácio Antunes
25/10/2007
confissão
devia haver entre nós olhar de pedra. devia haver e há. mas há também a água que surge aos olhos quando nos cruzamos e torna a pedra doce. coisa de rebuçado para criança. lá ficamos sem jeito. a inventar palavras para cobrir o tempo desse estar.
água a bater nas pedras. a amolecer as pedras que usamos como olhos ou pensamos usar. sabemos não poder olhar no fundo. lá para dentro é a alma. jogo das cinco pedrinhas. jogo de perder e de ganhar. já passámos por isso. conhecemos o risco de jogar. jogadores veteranos brincamos um com outro. provocação de infâncias tão passadas mas vivas como as cores do outono que esvoaçam à nossa volta já.
image by Moore Reef
acabou de chover. o ar está limpo. os olhos estão limpos mas olham em direcções diferentes e, se se cruzam, pregam-se logo ao chão. nenhum se quer mover dali e temos de. nenhum se quer calar pelo perigo disso e falamos de nada. por falar. rimos. temos de rir. ou caímos nos braços um do outro com o mundo a girar-nos em redor até nos despenharmos de vertigem na cama avermelhada do outono. mais quente ainda do que sol de agosto.
irra, confesso que seria um gosto!
24/10/2007
o medo e a ludoterapia

foi tudo exactamente assim com excepção da mordaça real. mais a devassa. ninguém mais pode entrar na casa. destruiram tudo. comeram beberam (no pinhal do rei). roubaram-me os livros.
22/10/2007
no centro de mim
à beira de ser morte cá por dentro com fúria de ciclone ainda por fora
à beira de ser vida violenta com a morte a querer fechar-me a última saída
à beira de... à beira de...
- que é que eu dizia? chegaste meu amor. respiro agora.
não não é vendaval, é maresia. não é morte nem vida é gargalhar!
o que parecia ser engolir vento era a força do teu respirar
a entrar em correria no meu centro.
20/10/2007
palavras-rio
descendo rios. saltando rio em rio
adormentei a dor das palavras guardadas
deitei sangue da alma. avermelhei a água
nada passa se não for resolvido
e as sangrias já estão ultrapassadas
na arte benfaseja de curar
vivi mares na idade dos lagos
mais tarde afundei poços. fui atirada lá
as palavras palpitavam-me as veias
não era dentro a mim o seu lugar
nem libertado o sangue elas saíam
colavam-se-me às células do cérebro
as palavras querem ser pronunciadas
alivio as que se libertaram
sofro as que insistem em não me abandonar
as palavras que a ti nunca direi
navegam rios comigo e alastrarão no mar
acabarão nas praias como história
como história. não como mais histórias

as palavras ganharam vida própria
são elas rios agora a transbordar.
animais de águas turvas
fui ao café da esquina. falei dela. que não a têm visto. a senhora daqui só leva sumos e água das pedras, bolos só muito raramente - o dono - diz que o açucar ás vezes lhe faz falta e depois a enjoa - e lá se foi a atender cliente. pego à toa mais uma folha de caderno quadriculado A4. tanto se me dá a ordem dos dias desornedados que viveu. quero é ler.
que era para eu não me sentir sozinho apressou-se a dizer. não fosse ela um carro de assalto, como você lhe chama e eu pensaria que me queria...
- que é que quer ela fazia-me rir e ... é sua irmã.
- também o Abel e Caim eram...
*José de Almada Negreiros
19/10/2007
milagre em Fátima...
- sim mas já estão gravados. Fátima não é bem a luz que me alumia, sabes isso.
- nem a mim. mas não voltei lá desde que ia passear a mãe a casa da Lúcia. assim aproveito e visito as antigas criadas. faço-as felizes.
- bem, se precisa, vamos.
- não se você não quer.
ah, tanta educação às vezes dava vontade de explodir como naquele dia - podias ter começado por perguntar primeiro!
muitas orações, reuniões, meditações e vias-sacras depois, comigo a servir de voz na contemplação dos mistérios, lá nos arranjaram um quarto decente. estava exausta. bem precisava, agora eu, dormir. mas o corpo dele precisava do meu. estava eufórico. cortar-lhe a rara felicidade, esteve para mim fora de questão. na dúvida de ter esquecido a pílula tomei outra.
e nesse dia engravidei.

quando se pede um milagre não se pode escolher qual. aprendi.
depois do choque incial pelo imprevisto (e foi bem grande). imaginei uma filha nascendo com uma pílula na mão a rir à gargalhada. a filha tenho-a. saudável. reguila. atrevida. peremptória no acto de nascer e de viver. a pílula deve tê-la perdido lá nos rios-misteriosos-regaços por onde navegou até a poder ver. eu ri.
mas a Fátima não penso voltar. não vá a santa, carregada de jóias, tecê-las outra vez.
*
ao acabar de ler isto apetece-me com urgência um café. imaginar Maria em Fátima é difícil. mas contado por ela ... tenho de acreditar.
18/10/2007
os papéis. o tesouro perdido por ali

ainda é no teu amor que sobrevivo
ainda é nele que encontro paz
meu amigo de sempre. meu abrigo
tu pedrada no charco em que vivia
tu vida já na morte
tu ferida em mim aberta dia a dia
tu angústia tu raiva tu sonho tu verdade!
vem-me de ti a força para sorrir
e pisar firme rumo a um qualquer norte.
escolhas.

sofro às mãos de mim a minha história. escolhas são escolhas e eu escolhi este amor. mas não escolhi o aqui. o como. o onde. tudo o demais foi sendo acrescentado à minha juventude como se ser jovem significasse força sobre-humana.
todos dormem na casa gigante, excepto eu. e é assim quase todas as noites. levanto-me. visito o sono deles. acaricio os sonhos que desejo felizes. os dos filhos. sorrio de ver a mãe como uma pedra no fundo de um poço, com a respiração mais lenta que a de lagarto a hibernar. amanhã vai dizer, como quase todas as manhãs: " não dormi nada. os meninos deram uma noite terrível...". ladadínhas que já sei de cór. nunca respondo. não valeria a pena.
o marido? esse dorme o sono dos anti-depressivos, dos barbitúricos. da morte diária nessa hora e a ser adiada dia a dia. quanto tempo irá ele resistir? quanto tempo resistiremos todos? e os meninos, por quanto tempo mais lhes poderei esconder o pesadelo?
desci para buscar água. não tenho vontade de subir. que faço eu aqui? que faço eu da noite ? que faço eu do futuro? que futuro há por ver?
16/10/2007
vida de papel

tantas vezes perdida tantas vezes achada . como um papel que parece esconder-se baixo ao nosso olhar, mas sempre ali.
sim duvidei. quando a arca que faltava não era para abrir. ainda não. era a mim que cabia. senti-me cansada como se tivesse sido eu a carregar o peso do silêncio tantos anos a fio.
não. não duvidei dela. não me tinha falhado como amiga nunca. também nunca se impunha. sabíamos apenas que ela estaria lá. não era egoísmo. era assim que nós nos entendíamos todos até ela desaparecer.
desapareceu porquê? até eu me perguntei às vezes. ela que tanto se lhe dava falar horas a fio como ficar a ouvir-nos desabafos de gente, sem hora de fechar.
duvidei. não duvidei? já nem me entendo. seja o que for é hora de abrir a arca e de a reencontrar.
rio. e a outra margem.
15/10/2007
e aos 60 anos "ressuscitou"?!
e ressuscitou!
como quem nasceu para modelo. modelo de tudo. até de photoshop, ressuscitou para mentir de novo. para me usar a vida como sua. para ter notoridade. ele há notoridade maior que ressurgir da morte?
o que a move? não sei. se calhar ao tempo do pai "poeta louco" já havia pilhas duracel e ainda não acabaram. se calhar o não ter tido nunca vida própria a obrigue a viver a vida alheia. se calhar o só ter tido um filho por cesariana a faça querer ter adoptado os meus.
desta não, avozinha! desta chega! comigo não fizeste caridade. eu não sou uma das velhinhas ou crianças, tanto dá, que tu ajudaste a atravessar a rua. quando não o queriam fazer.
os meus filhos pari-os e criei-os sem pai e desde cedo. não queres que conte mais, pois não ó velha tonta?
sim, os mini-mercados faliram. mas quem sustentava as tuas férias de quinze ou vinte "católicos progressistas" ?- o mini-mercado do teu pai "poeta louco".
a pide insultou-te assim tanto, como visitante? curioso. a mim que lá estive dentro não o fez. devias ser mesmo muito perigosa para terem tido medo de te prender!
só li fragmentos desta vigésima quinta ou sexta entrevista (que náusea! que ridículo! se a lesse toda acabava a vomitar)
se os casapianos, que eu muito respeito, como o meu pai me ensinou por ter sido um deles. a que chamava irmãos e levava para jantar o que encontrasse onde quer que fosse, aceitam que os representes. se os meus filhos apatetados com tanta "glória" da tia, te batem palmas, que te aproveite!
cada qual tem o ídolo que merece.
mas lá teres criado os meus filhos, Catalina Pestana- ESSA NÃO!
fico por aqui porque sou contra a pedofilia. é que eu pari filhos e isso liga-nos para sempre. para a vida. quer tu queiras ou não.
não a ti. a quem se atreve a parir em lugar de abortar e entende o que é uma criança ao vê-la dar o primeiro grito.
o meu grito e último aviso é: - cala-te e não te atrevas a falar mais de mim. não te conheço há muito tempo já. e tu sabes bem isso. e o porquê!
e há porquês piores. que nem tu calculas que também já sei.
11/10/2007
amando a vida.
últimas lágrimas
hoje o sol luz maior. abre-se em cor a vida. soltam-se folhas vermelhas das paredes como lágrimas guardadas , em sangue, na memória dos astros. lágrimas tornadas sal pedra nos olhos doridos de as suster. vejo-as cair com o alívio bom de quem vê chover depois da seca. correm livres. há lá maior bênção que a liberdade? de chorar também.
a terra, até agora um planeta frio, quase lunar, volta a azular com a distância dele.
distanciei-me. tão definitivamente quanto posso. desencantos já os tive demais. já chega, vida!
deixo cair das mãos, por entre os dedos, o que já não tinha há muito tempo. (ah, como a lucidez é um fardo tão grande!)
já não pode haver ameaças de abandono quando o abandono me tem sido total. nada a perder quando se perdeu tudo.
como uma árvore despida após o outono acaba por cobrir-se se não morrer no inverno, o mesmo terá de acontecer comigo. é só preciso que caiam as últimas folhas (ou lágrimas?) aos pés de mim para me fertilizar.
*
a ti, meu filho de olhos claros, que posso ainda dar para te mostrar a limpidez de um dia após a chuva, se te sujaram já a noção da água pura?
fica a esperança de que haja ressurreição depois da morte que o inverno traz.
olho daqui a luz outonal por sobre o rio. tão mansa que dá vontade de acreditar que a vida vale a pena. até para mim.
para ti, tem de valer!
10/10/2007
por causa de uma notícia de jornal (ou será de uma foto?)

uma pedra no caminho
08/10/2007
era uma vez um burro...

image by SilvesterCat
alguns burros mais antigos corriam o risco de ser presos em manjedouras comuns a vários. o burro devia-lhes favores. tinham-no ajudado a subir. tinham-no empurrado até ali acima. até ao verbo poder. o burro ditou (não sabia escrever) uma lei que aliviasse as penas.
depois, olhou à volta para os pobres burros-pobres e pensou: "se continuam confortáveis não me distingo deles a não ser pela marca da roupa e olha lá...". foi então que decidiu tratar-lhes da saúde, da educação e atirar-lhes para o lombo uma carga de impostos. burro é animal de carga, afinal. o burro ditava leis.
o burro dita leis.
o burro subiu a um montículo e por isso tem o poder de governar.
era uma vez um burro...
(ainda bem que o miúdo adormeceu. esta história ainda vai a meio de terminar...)
05/10/2007
beijo frio
aprendi-os ao espelho, os beijos que te dei.
coisas de solidão. puritanismos de outros. timidez.
que desejava eu na hora de brincar boca com espelho? - a ti.
a ti parecia tudo dirigido. conceberam-me sem saber, para ti.
e agora? agora que o tempo me gastou a lisura da boca
e a esperança de vida sendo muita, me é pouca
e não há lábios espelhados e nem espera a vencer
que faço agora, diz, ao teu sabor ausente?
não me sei viva ou morta - sei-me história
qualquer coisa passada sem futuro e olho-me
como se me visse distante, desdobrada
uma outra eu, lá do cimo de um muro
agora, penso sem saber para quê
recordo, amo anseio sem saber a quem
coisa patética de quem por nada, sente
não me sei viva nem morta e, sei-me gente?
04/10/2007
dói-me o mar

desaguados os rios no que parece um lago
é quase a hora de se esconder o sol
tudo se reflecte nesse instante. em mim
não sou mar. nem riacho afinal
nada mais que água. gota de água
mas tudo se reflecte. tão cá dentro!
a tua ausência...
dessa não falarei que quero sonhar.
a tua ausência...
essa não se pode reflectir nos meus olhos
de espera.
a tua ausência
dói não sei bem onde. no lago-mar
nos rios dormentes. cansados de correr.
ou onde o sol sem me contar
se esconde.
02/10/2007
sonho. pois.


image by SilvesterCat
cresceu a tempestade. nós ficámos. nem a água que transbordou dos rios e inundou as ruas da cidade apagou a nossa felicidade da calçada
na nossa dança à chuva, sem descolar os lábios, fomos a juventude que não há.
não será o pesadelo de acordar ou o mundo a cercar-me a apagar de novo o teu sabor da minha boca.
grande o momento em que fechaste a porta.
meu amor, que beleza tem o poder de sonhar!
01/10/2007
- mas...
-senti a tua falta nessa noite como um deserto frio branco.
- mas tu é que não foste . eu estive lá.
conversa que não houve. deserto com sentido. mas senti-te a falta como se fosses meu e me faltasses. tinha-te olhado os olhos - estavam tristes e eu nem podia perguntar porquê...
vénias de circunstância essas de fingirmos não pensar nos outros. ó deuses que elegante isso é!
e teria de ser a noite toda assim. o olhar desviado. o tropeçar inevitável. os sentidos todos em alerta máximo. e gente. muita gente. gente a mais com mil olhos por cada.
- por isso é que não fui.
- não foi o que disseste...
- e podia eu dizer porquê? e a quem se nem sequer a ti?
- a mim podias mas...
- mas... que se dane tudo! por isso é que não fui. não sou de mas.
pensava isto aconchegada no sofá. a cadela já tinha adormecido. é a minha hora de pensar. e desta vez voltaste. nessa hora. tu e o deserto de não estares ali. ou eu contigo. ou...
deserto branco. frio. porta aberta ao vento que regela.
mas...
hei-de voltar a ver-te. isso aquece-me um pouco enquanto escrevo palavras que nem eu quero entender.
- que tinhas nesse dia? porquê o olhar triste? diz!