
liquefeita em silêncio outra vez. vez após vez. já se tornou um hábito ou forma de viver.
a ti falo de tudo como no outro dia. o do desejo. afinal sempre o fiz. tu não. se eu perguntasse respondias. o mínimo. o possível. mas éramos dois corpos obrigados à separação e vivos ambos. então.
depois silenciávamos e um olhar bastava para cada um entender que se ferira e ferira o outro no mal lidar com o facto de estar ali, mãos dadas e corpos a terem de ser alheios a isso.
os amores têm corpo. não terão só, mas têm - se até o amor de mãe tem colos de anjo...
liquefeita em ausência e em silêncio embrulho-me na areia da margem. queria infiltrar-me nela. desaparecer assim.
falta ainda tempo ao que parece. volto os olhos para o rio. não te vejo espelhado. à minha espera. sei que às vezes te ausentas. nunca soube para onde nem pergunto.
irás chorar num canto o meu próprio desejo, como eu não sei fazer?