hoje o sol luz maior. abre-se em cor a vida. soltam-se folhas vermelhas das paredes como lágrimas guardadas , em sangue, na memória dos astros. lágrimas tornadas sal pedra nos olhos doridos de as suster. vejo-as cair com o alívio bom de quem vê chover depois da seca. correm livres. há lá maior bênção que a liberdade? de chorar também.
a terra, até agora um planeta frio, quase lunar, volta a azular com a distância dele.
distanciei-me. tão definitivamente quanto posso. desencantos já os tive demais. já chega, vida!
deixo cair das mãos, por entre os dedos, o que já não tinha há muito tempo. (ah, como a lucidez é um fardo tão grande!)
já não pode haver ameaças de abandono quando o abandono me tem sido total. nada a perder quando se perdeu tudo.
como uma árvore despida após o outono acaba por cobrir-se se não morrer no inverno, o mesmo terá de acontecer comigo. é só preciso que caiam as últimas folhas (ou lágrimas?) aos pés de mim para me fertilizar.
*
a ti, meu filho de olhos claros, que posso ainda dar para te mostrar a limpidez de um dia após a chuva, se te sujaram já a noção da água pura?
fica a esperança de que haja ressurreição depois da morte que o inverno traz.
olho daqui a luz outonal por sobre o rio. tão mansa que dá vontade de acreditar que a vida vale a pena. até para mim.
para ti, tem de valer!
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