19/10/2007

milagre em Fátima...

- preciso ter uma Páscoa decente. sempre foi importante para mim esta data. vem comigo a Fátima? está lá o seu amigo padre e você até disse poemas. assim aproveito e oiço-a também.

- sim mas já estão gravados. Fátima não é bem a luz que me alumia, sabes isso.

- nem a mim. mas não voltei lá desde que ia passear a mãe a casa da Lúcia. assim aproveito e visito as antigas criadas. faço-as felizes.
dizer-lhe que não era difícil. ele precisava. tinha duas costelas partidas numa escorregadela de tapete, mas precisava conduzir até Fátima assim. estava um frio de rachar costelas sãs. nem um hotel marcado. nada. mas era preciso. assim, de véspera.

- bem, se precisa, vamos.

- não se você não quer.

ah, tanta educação às vezes dava vontade de explodir como naquele dia - podias ter começado por perguntar primeiro!

não explodi. afinal ele precisava. a minha missão com ele já era de serviço há muito tempo. coisa de mãe mais nova do que o filho, mas presente na hora.

image by BA Mark Mapa

dormida numa casa de freiras fria e árida. as dores nas vértebras cresceram. as velhas senhoras agradeceram-me tê-lo levado lá. obrigada. nunca pensámos ver de novo o nosso príncipe aqui. aos pés de nossa Senhora. a mãezinha dele deve estar tão feliz...

muitas orações, reuniões, meditações e vias-sacras depois, comigo a servir de voz na contemplação dos mistérios, lá nos arranjaram um quarto decente. estava exausta. bem precisava, agora eu, dormir. mas o corpo dele precisava do meu. estava eufórico. cortar-lhe a rara felicidade, esteve para mim fora de questão. na dúvida de ter esquecido a pílula tomei outra.

e nesse dia engravidei.

image by Marino Mannarini

quando se pede um milagre não se pode escolher qual. aprendi.

depois do choque incial pelo imprevisto (e foi bem grande). imaginei uma filha nascendo com uma pílula na mão a rir à gargalhada. a filha tenho-a. saudável. reguila. atrevida. peremptória no acto de nascer e de viver. a pílula deve tê-la perdido lá nos rios-misteriosos-regaços por onde navegou até a poder ver. eu ri.

mas a Fátima não penso voltar. não vá a santa, carregada de jóias, tecê-las outra vez.

*

ao acabar de ler isto apetece-me com urgência um café. imaginar Maria em Fátima é difícil. mas contado por ela ... tenho de acreditar.

5 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
para mim,
curtinha, sem açucar . . .
*
um ji
*

O Profeta disse...

Hoje dei por mim a pensar
Para onde correm os teus anseios
Repousa a tua imensa saudade
Uma lagoa que abraça os ribeiros

Bom fim de semana


Doce beijo

Unknown disse...

Pois... os milagres!
Beijo

Mustafa Şenalp disse...

Your blog is very nice:)

Madalena disse...

Muito obrigada a todos.:)

Permitam que saúde com especial alegria um amigo profeta que julgava ter perdido de vista. aleluia.

thank you too, Mustafa. :)